Saiba mais sobre a semana de alta costura, o mundo metaverso e a beleza que ultrapassa o tempo e o espaço. Ouça aqui.
Estava em Paris, em julho, quando aconteceu a última semana de moda de alta costura.
Assistimos à volta às tradições de Dior e Chanel, um desfile surrealista da Maison Schiaparelli, à fluidez de gêneros de Balmain e um espetáculo à parte da Balenciaga, inteligente, como sempre.
À tarde, no Hotel Amour perto de Pigalle, com uma amiga, lembrava dos tempos do Marangoni, em Milão.
Ela, que atualmente trabalha na equipe do estilista georgiano Demna Gvasalia, diretor criativo da Balenciaga, acumula muitas histórias e experiências no mundo da moda, como eu.
Compartilhamos impressões.
Muitos falam da solidão e ansiedade, mal moderno que aflige tão fortemente a GenZ, jovens que “nasceram” no mundo virtual, que valorizam, na moda, a singularidade, a convivência e a consciência ambiental.
Outros falam de slow life, na busca por algo que faça sentido, algo que eu conheço muito bem!
No nosso meio, surgem aqui e ali, profissionais e marcas que optaram pelo slow fashion.
A moda “lenta”, por assim dizer!
Nós duas tivemos nossos momentos de stress no trabalho na moda, que quase nos levaram ao burnout e, decididamente, nos fizeram rever nossas escolhas.
Não somos mais as mesmas de dez anos atrás, é claro!
Como a moda, o que vivemos também teve seu lado passageiro.
E, em tempos de modernidade líquida, parece-nos ainda mais fugaz, como se esvaísse no ar.
Mas foi, naquele momento, no 18e arrondissement, em meio à arquitetura parisiense, observando as pessoas passarem, o estilo de rua, que tudo se encaixou.
Há algo mais autêntico, uma beleza atemporal, que não nos escapa no minuto seguinte e que, se olharmos em profundidade, nos comove.
As parisienses e as ruas da capital francesa nos convidam a pensar diferente.
E a atemporalidade não abarca tudo isso?
Eu e minha amiga, deixando essas especulações filosóficas de lado, voltamos a nossa reflexão sobre a instigante Semana de Moda de Paris.
Se, de fato, Demna com o seu desfile, nos faz pensar sobre a moda do futuro, não posso desejar que o meu avatar estivesse em Paris, naquele momento, no meu lugar.
Imaginar os tecidos, as texturas e as peças ganhando vida na passarela, no mais alto nível da moda, na alta costura, me fez questionar o quão próximo a moda virtual pode, de fato, se aproximar da realidade?
No desfile da Balenciaga, Demna fala de sentimentos, como aqueles que senti nos meus dias em Paris. Seria possível sentir o mesmo no mundo metaverso?
Ele fala também do tempo, que é o que une o real ao virtual.
Essa semana nos fez pensar!
Já fazia um tempo que não nos víamos, pessoalmente; desde que fui trabalhar na Burberry em Londres, e ela na França, depois veio a pandemia…
Caminhando, pelas ruas de Paris, nos demos conta, gratificadas, que fomos parte e expectadoras das transformações, sem precedentes, na indústria da moda.
E mais que impressões, compartilhamos nossas “certezas”, com base no que vimos nesses dez anos.
A internet revolucionou a criação de moda, como tudo mais!
As redes sociais e os genuinfluencers potencializaram isso; vozes menores, pouco ouvidas, agora encontram espaço.
Hoje somos reflexo de muitas pequenas partes que, juntas, formam esse universo caótico, mas, na essência, existe algo de genuíno, atemporal.
E não é isso que, cada vez mais, buscamos nas relações pessoais, nos desfiles de moda e nas redes sociais?
Seja Chiara Ferragni, poderosa blogger italiana, famosa “girl boss”, sem maquiagem, com o rosto lavado, contando como o stress a leva a ter muitas espinhas!
Ou Vic Ceridono que lança a sua linha de cosméticos super prática para mulheres reais, que, se surpreendam, podem nem gostar de maquiagem!
Hoje, parece-nos que estamos exaustos de conteúdos pasteurizados!
E algumas marcas de alta costura seguem nesse mesmo caminho.
Dior e Chanel criaram narrativas de moda com ênfase na tradição artesanal, no savoir faire de seus ateliês e na, pouco provável, “funcionalidade” das peças de alta moda.
Basta pensar que a alta costura é o mais próximo que a moda se aproxima da arte!
Schiaparelli criou um mundo surrealista, Balmain fala também da fluidez de gêneros, onde não existe mais a distinção entre o feminino e masculino, e Balenciaga, um espetáculo à parte, questiona inteligentemente as relações virtuais.
Pode-se dizer que, cada uma dessas Maisons, nos faz refletir sobre tudo aquilo que estamos “dispostos” a abrir mão, mostrando outras experiências, formas de expressão e de estar no mundo que nos remetem ao encontro genuíno, àquilo que persiste no tempo e espaço.
Existe tanto entre um clique e outro!
Deixemo-nos capturar, emocionar pela beleza de uma peça de alta costura, de um desfile, das ruas de Paris e, sobretudo, do reconhecimento do outro e da vida, que pulsa ao nosso redor.
Assim, como conviver com a solidão, ansiedade e tantos outros males modernos?
Uma sugestão…permita-se apreciar, vivenciar, a beleza que ultrapassa o tempo e o espaço no mundo que nos cerca.
Perceber o belo, no atemporal, que nos arrebata e preenche.
Que todos os dias sejam dias em Paris!