Nesses últimos oito anos, trabalhando como product developer para marcas de moda em Milão e em Londres, posso dizer que sei o quanto o trabalho na moda pode ser estressante.
Ajudei a produzir peças lindas! Peças criadas por renomados estilistas, como Donatella Versace e Riccardo Tisci, e que fizeram sucesso nas Semanas de Moda em Milão e Londres.
No entanto, quem vê essas roupas fabulosas na vitrine das lojas no quadrilátero da moda em Milão, naquele desfile fabuloso no Tate Modern em Londres ou admira o lookbook incrível da sua grife favorita não imagina o stress e a pressão que, na maior parte das vezes, os profissionais do mundo da moda são submetidos.
Entenda por que isso acontece e como gerenciar o stress no trabalho na moda.
O stress visto por trás do backstage
O trabalho na moda é efervescente e animado, um mundo cheio de glamour e beleza, mas também, muitas vezes, é exaustivo.
Eu e muitos colegas quase acabamos em burnout!
Ou seja, num estado de exaustão emocional, física e mental sem igual causado pelo estresse excessivo e prolongado no trabalho.
Mas o que leva ao burnout no trabalho no mundo da moda?
Penso logo nas particularidades da indústria da moda que eu pude ver do backstage e é isso que vou contar a seguir.
O ciclo da indústria da moda
Desde a concepção de uma coleção, seu desenvolvimento, a produção até a venda das peças, toda a cadeia produtiva trabalha num ritmo frenético, com prazos curtos e inadiáveis.
Criação, desfile, vendas e distribuição e recomeça tudo, uma outra vez, sem parar!
Você pode estar pensando: até aí, nada demais, isso é o que acontece em qualquer indústria!
No entanto, a questão muda de figura se você imaginar que isso ocorre quatro vezes ao ano.
Uma grande marca, como a Versace e a Burberry, na qual trabalhei na linha feminina e masculina, elaboram no mínimo quatro coleções para cada linha da empresa – feminina, masculina, infantil, acessórios etc – por ano, com infinitas peças por coleção.
Não podemos esquecer os prazos
Esses são curtos e tudo deve ocorrer de forma sincronizada: mood de inspiração da coleção, elaboração dos croquis, criação dos moldes, confecção dos protótipos, fittings, confecção das peças-piloto, desfile, preparação do lookbook, campanhas de vendas, produção e distribuição.
Qualquer atraso significa o rompimento num elo dessa cadeia e pode comprometer todo o trabalho.
Por exemplo, aquela peça piloto que não fica pronta para o desfile, aquela estampa que o estilista resolve mudar na véspera da apresentação da coleção!
A carga excessiva de trabalho, com longas jornadas
Quanto mais se aproximava um desfile, mais longos ficavam meus dias de trabalho, que normalmente já iam muito além do horário de expediente normal.
Era raro o dia em que conseguia sair do escritório às 18h, inúmeras vezes cheguei antes do horário para dar conta de mais uma tarefa imprevista, e perdi a conta dos finais de semana em que trabalhei. Tudo isso sem remuneração extra!
Lembro-me ainda (sem nostalgia!) do meu primeiro estágio em Milão, dando o máximo para impressionar meu chefe na esperança de conseguir um contrato de trabalho, envolvida em tarefas operacionais e infindáveis, como tirar fotocópias, embalar e desempacotar protótipos, organizar o arquivo de tecidos.
Não menos importante, a natureza da indústria da moda
No mundo da moda existe muita sensibilidade, criatividade, beleza e busca de perfeição.
O outro lado dessa moeda é o ego e a vaidade.
Tem quem considere o seu trabalho de “vital importância”, com demandas excessivas, sempre prioritárias, e decisões inquestionáveis.
Como disse meu chefe, sob a maior pressão para produzir uma coleção em meio à pandemia de COVID-19, “não estamos salvando vidas, mas fazendo roupas para gente muito rica!”.
Isso diz tudo, não é?
Como gerenciar o stress e lidar com a pressão no trabalho com a moda
Trabalhar no mundo da moda é fascinante, mas é preciso ter resiliência e estar preparado para enfrentar momentos de muito stress.
Com os anos de experiência, aprendi algumas lições, que me ajudaram muito.
Primeiro, entendi que não devia levar nada para o lado pessoal, nem desanimar.
Lembro do dia em que minha chefe reclamou muito de uma peça que desenvolvi e, logo em seguida, a mesma foi muito elogiada pela diretora de produto, pela estilista e selecionada para integrar o lookbook da empresa.
Com o tempo entendi como a coisa funcionava e vi que reclamar é usual de muitos chefes, como forma de aliviar o tremendo stress e pressão recebida.
Até entender isso, tive que aprender um jeito de lidar com tudo aquilo.
Claro que regular bem a alimentação e o sono (sempre que possível!) foram fundamentais, mas corridas ao ar livre, aulas de dança e de yoga, com a prática de respiração, foram fundamentais para eu preservar a minha saúde física e mental.
O yoga, em particular, fez a diferença.
Eu sentia tão bem e recuperada depois de uma aula que comecei a me interessar e estudar sobre essa prática.
Para começar, com o yoga aprendi a respirar profundamente várias vezes durante o dia.
A respiração abdominal, com uma série de inalações e exalações profundas, num ritmo mais lento e o oxigênio extra, fazem com que a tensão seja reduzida, os músculos do peito relaxem e o stress diminui.
Com a prática do yoga tornei-me mais tranquila e produtiva!
O fato é que, como eu, milhões de pessoas praticam yoga todos os dias no mundo.
O que você faz para lidar com o stress no trabalho?
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