Feminismo e a moda

Chanel e Dior: o feminismo e o New Look! Uma rivalidade!

Conheça uma das maiores rivalidades da história da moda. Ouça aqui:

Coco Chanel e Christian Dior foram dois polos opostos na moda, mas, para além da rivalidade, tinham uma coisa em comum: compreendiam as mulheres, seus desejos e anseios. 

A moda não seria o que é hoje sem grandes rivalidades, provavelmente, mas uma coisa é certa: não sem esses dois grandes couturiers do século 20, que amavam vestir as mulheres e deixaram um inegável legado para a indústria da moda.

Hoje, apropriadamente, ambas as casas, Dior e Chanel são chefiadas por mulheres! 

Em 2016, Maria Grazia Chiuri tornou-se a primeira diretora criativa mulher da Dior, deixando claro suas intenções já no seu primeiro desfile. 

“We Should All Be Feminists” exibiam as camisetas na passarela. 

Em fevereiro de 2019, a Chanel anunciou Virginie Viard como sucessora do falecido Karl Lagerfeld; ela começou sua carreira na marca, 30 anos antes, como estagiária do departamento de bordados de alta-costura.   

A rivalidade entre Coco Chanel e Christian Dior!

“Olha como essas mulheres são ridículas, vestindo roupas de um homem que não conhece mulheres, nunca teve uma, e sonha em ser uma” disse Chanel, referindo-se à coleção de estreia de Christian Dior.

E não parou por aí! 

Segundo a estilista, uma mulher sentada em um vestido Dior mais parecia “uma poltrona velha”. 

“Dior não veste mulheres. Ele as estofa.” 

Chanel acusou Dior de arrastar as mulheres de volta aos ideais de feminilidade do século XIX, quando eram nada mais que objetos a serem admirados pelos homens.  

Dior, entretanto, via seu trabalho de forma muito diferente, é claro, como explicou certa vez: 

“Penso no meu trabalho como arquitetura efêmera, dedicada à beleza do corpo feminino.” 

Nos EUA, muitas mulheres concordaram com a visão de Chanel e, quando Dior visitou o país, no outono de 1947, ele enfrentou manifestantes hostis acenando cartazes, instando-o a ir para casa e pior: 

“Abaixo o New Look”. 

“Queimem o senhor Dior”. 

Tal foi o furor que a revista Time fez uma pesquisa perguntando: 

“Você é a favor ou contra o New Look?” 

Na verdade, esse estilo ultraconstritivo e hiperfeminino criado por Dior desde a primeira coleção foi considerado um retrocesso na emancipação das mulheres e, veementemente, condenado pelas feministas.

Portanto, não é difícil entender por que Chanel era tão passional na sua antipatia pela estética de Dior, afinal, as criações do estilista, sobretudo o New look, eram o oposto de tudo o que seu trabalho representava.

Vale lembrar que, antes da Segunda Guerra e do sucesso de Dior, Chanel havia se posicionado na vanguarda da moda.

Ela capturou o espírito da época, ao abandonar os espartilhos e se apropriar das roupas masculinas e esportivas.

Chanel tinha um olho para elegância discreta e adorava adicionar detalhes masculinos aos seus desenhos porque, segundo ela, empoderavam as mulheres! 

Dior não foi o único estilista a sentir a língua ferina de Chanel. 

Ela também criticava as criações de Cristóbal Balenciaga, referindo-se ao trabalho da dupla, Balenciaga e Dior, como “desenhos ilógicos”. 

Coco Chanel e o estilo melindrosa! 

As flappers ou melindrosas dos anos 20 têm uma grande dívida com Coco Chanel! 

Vale lembrar que, na moda, melindrosa se refere ao estilo de vida das mulheres jovens que surgiu na onda do liberalismo após a Primeira Guerra. 

Elas usavam saias curtas e blusas, aboliram o espartilho, usavam cabelos curtos, num corte popularmente conhecido como à la garçonne ou bob cut, hoje também conhecido como corte Chanel. Faz sentido, não? 

Para completar o visual, adotaram um chapéu pequeno, cloche, meias finas enroladas nos joelhos e sapatos de salto, estes, geralmente, com pulseira em T. 

Liberais no comportamento, elas desacatavam a conduta feminina tradicional à época; ouviam e dançavam provocativamente o Jazz e o Charleston, dirigiam automóveis, fumavam e bebiam em público. 

Muito Chanel, não diria?

Acima de tudo, Chanel criava as roupas acessíveis a mulheres de todas as idades e, sobretudo, confortáveis de usar. 

‎”Nada é mais bonito do que a liberdade do corpo”, disse Chanel certa vez. 

De fato, suas criações espelhavam isso: as silhuetas fluidas e andróginas, e como, no caso do icônico tubinho preto, democráticas. 

Na época, esse vestido, o tubinho preto, foi descrito pela revista Vogue como “Ford da Chanel”, em referência ao popular modelo Motor T da fabricante de automóveis norte-americana. 

Talvez o look mais icônico da Chanel continue sendo o terninho de duas peças, feito em tweed, amado por todos, de Brigitte Bardot à Princesa Diana.

Essa releitura do conjunto masculino, ficou registrada para sempre na história, ao ser usada por Jackie Kennedy no dia em que seu marido, o presidente dos EUA John F. Kennedy, foi assassinado, em novembro de 1963.   

Christian Dior e o amor pelas mulheres!

Mesmo com todo o sarcasmo de Chanel sobre Dior não conhecer mulheres, na verdade, ele foi fortemente influenciado por elas. 

Dior reconheceu inclusive, publicamente o impacto de três em particular.

 A primeira foi Madame Raymonde Zehnacker, sua diretora de estúdio de design, que ele descreveu em seu livro “Je Suis Couturier”, publicado em 1951, como:

 (…) meu segundo eu. Ou para ser mais preciso, minha outra metade. Ela é o meu complemento exato: ela joga razão para a minha fantasia, ordem para a minha imaginação, disciplina à minha liberdade, previsão para a minha imprudência, e ela sabe como introduzir a paz em uma atmosfera de conflito. Resumindo, ela … me guiou com sucesso através do intrincado mundo da moda, no qual eu ainda era um novato em 1947”

Em seguida, houve Marguerite Carré, uma mulher que Dior descreveu como “um gênio técnico”, que transformava seus esboços em realidade. 

Dior disse sobre Carré: “Ao longo dos anos ela se tornou parte de mim mesmo – da minha auto costureira, se assim posso chamá-la.”

A terceira mulher influente foi Mitzah Bricard, musa de Dior. Sobre ela o estilista escreveu: 

Madame Bricard é uma dessas pessoas, cada vez mais raras, que fazem da elegância sua única razão de ser. Olhando para a vida fora das janelas do Ritz, por assim dizer, ela é soberbamente indiferente a preocupações mundanas como política, finanças ou mudança social.  

Em entrevista à BBC, Oriole Cullen, curador da exposição Christian Dior: Designer of Dreams da V&A, disse que “toda a vida de Bricard foi dedicada ao seu olhar, e suas ideias – ela era sua confidente”. 

Esses comentários de Dior, ao contrário do que insinua Chanel, mostram que as relações do estilista com as mulheres eram intensas e colaborativas, essenciais para o trabalho na sua Maison. 

Além desse trio poderoso, não menos importantes na vida e no trabalho de Dior foram as influências de sua mãe, Marie-Madeleine, a quem Dior era completamente dedicado, e sua irmã nova, Catherine, de quem ele era extremamente próximo. 

A estética de Dior foi muito influenciada por sua mãe, com seu amor pelas silhuetas de vespa da Belle Époque e tecidos luxuosos, ela era uma mulher exuberante e elegante.

Já sua irmã, era uma história de toda uma vida compartilhada, dificuldades e alegrias.

Registra a história que, na Segunda Guerra, Catherine se juntou à Resistência e, posteriormente, capturada pela Gestapo, foi enviada para o campo de concentração de Ravensbruck, onde ficou até o final da guerra, em 1945. 

Em 1947, quando Dior preparava o desfile da sua primeira coleção, que ficaria conhecida como New Look, ele também estava para lançar seu primeiro perfume, até então sem nome. 

No último ensaio, Dior estava cercado das modelos, e a sua musa, Mitzah Bricard, ao descer as escadas da Maison, na Avenue Montaigne, e ver a irmã de Dior, Catherine, que estava presente, comentou: “Aí vem Miss Dior!”.

Naquele momento, o estilista escolheu o nome para o seu primeiro perfume, Miss Dior, uma homenagem à irmã que tanto amava e admirava.

O fato é que, para além das provocações de Coco Chanel, muitas mulheres adoravam Dior e suas criações. 

Ele tinha muitas seguidoras, incluindo mulheres ricas, famosas, artistas, aristocratas, membros da realeza, como a bailarina Margot Fonteyn, a escritora Nancy Mitford e a princesa Margaret, que visitou seu ateliê parisiense em sua primeira turnê europeia aos 18 anos. 

Três anos depois, Cecil Beaton fotografou Margaret em seu aniversário de 21 anos usando o vestido de alta costura creme de um ombro só da Dior, com uma saia de tule de extraordinária beleza, adornada com ouro. 

Contam que Margaret o chamou de seu “vestido favorito de todos”. 

Assim, ao contrário do que possa ter dito Chanel, sem dúvida, Dior também foi capaz de entender as mulheres e fazê-las sentir confiantes, femininas e belas. 

Coco Chanel e Christian Dior para além da rivalidade!

Chanel e Dior, dois polos opostos na moda, duas estéticas diversas, tiveram a percepção do que as mulheres ansiavam e retrataram em suas criações!  

Ela queria que as mulheres se movessem e respirassem em suas próprias roupas, assim como os homens faziam nas deles. As criações de Coco Chanel eram, em muitos aspectos, uma forma de emancipação feminina.‎

Já Dior não queria criar roupas para o dia a dia de uma mulher pragmática num século em rápido movimento, mas vender um sonho, da Belle Époque, quando as mulheres podiam se dar ao luxo de serem extravagantes e deliberadamente glamourosas.

Assim, Chanel e Dior, ao entenderem os anseios das mulheres à época, mudaram para sempre o rumo da história da moda. Uma grande rivalidade, sem dúvida, mas o legado desses dois grandes couturiers do século 20 é inegável!

Hoje, as marcas que eles criaram, ambas dirigidas por mulheres, estão entre as mais importantes do mundo, continuam antenadas com os tempos atuais e povoando o imaginário feminino. 

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