Saiba tudo sobre as modelos maduras que estão conquistando as passarelas e quebrando estereótipos.
Durante décadas o mundo da moda é sinônimo de juventude.
Os desfiles são dominados por figuras esguias em seus vinte e poucos anos, perpetuando uma definição específica de beleza.
Mas uma mudança refrescante está acontecendo.
No meu dia a dia no trabalho na moda, vejo um número crescente de marcas de moda apresentando mulheres mais maduras, muitas com mais de 50 anos, em desfiles de moda.
Desde que morei em Copenhagen, acompanho as semanas de moda que acontecem na cidade, e já há algum tempo as marcas promovem a inclusão e celebram a diversidade, inclusive com modelos mais maduras nas passarelas.
No entanto, isso, que para muitos ainda é uma curiosidade ou excentricidade, chegou ao coração da indústria da moda!
Uma surpresa que veio na última Paris Fashion Week!
Acompanhei de perto o desfile da coleção de inverno 2024 da Balmain na última PFW, que, sob a direção criativa de Olivier Rousteing, surpreendeu a todos com um belíssimo desfile e modelos maduras na passarela.
A coleção revisitou peças criadas pelo próprio Balmain, e Rousteing conta que essas o inspiraram a usar as referências de sua cidade natal, Bordeaux, como as famosas uvas e os escargots:
“Canalizei o extraordinário espírito, artesanato e padrões da África dos meus pais biológicos na coleção e também usei como fonte de inspiração Bordeaux, cidade que nasci e que me formou.”
A coleção faz releitura perfeita das peças da Balmain, traz inovações inesperadas, como drapeados estruturados, bordados e muitas estampas, em com roupas utilitárias, peças clássicas e maximalistas, tudo isso com corte, caimento e alfaiataria impecáveis, combinando materiais e técnicas inovadoras ao requinte artesanal parisiense.
Mas, para mim, um dos aspectos mais marcantes do desfile não foram essas peças, embora admiráveis, mas a idade de muitas das modelos na passarela.
No total, 20 das 57 modelos tinham mais de 35 anos, que incluiu Axelle Doué (70 anos), Cristina de Coninck (63 anos), Estelle Levy (51 anos) e Marie Seguy (47 anos).
Rousteing após seu desfile explicou essa opção que surpreendeu a todos:
“Sinto que muitas vezes celebramos um tipo de beleza na moda, que é a juventude, e estou preocupado com essa abordagem.”
Modelos maduras: uma escolha que se revelou mais que acertada!
O desfile da Balmain foi um sucesso, um dos mais comentados na Paris Fashion Week, com muita repercussão no meio e na mídia.
No dia seguinte ao desfile, este foi motivo de conversas entre muitos colegas e alunos meus do Istituto Marangoni aqui em Paris, onde dou aulas.
Algumas marcas de luxo já vêm caminhando nessa direção, apresentando modelos maduras em seus desfiles ou campanhas publicitárias, assim como muitas revistas de moda.
Vale lembrar Kristen McMenamy e Lauren Hutton na Valentino, Inès de la Fressange na Chanel, com; om Isabella Rossellini, Monica Bellucci,a Helena Christensen, Eva Herzigova e Carla Bruni na Dolce & Gabanna, Jessica Lange na Marc Jacobs com e Catherine Deneuve, a eterna musa de YSL, e a cantora Patti Smith nas campanhas publicitárias da Saint Laurent, isso para mencionar algumas.
Também já vimos artistas e modelos já mais maduras em muitas capas de revistas de moda, como Meryl Streep e Cindy Crawford na Vogue, Jodie Foster na Haper´s Baazar, Nicole Kidman e Julia Roberts na InStyle e Cindy Crawford, Naomi Campbell e Ellie Macpherson na Elle.
Mas o que Balmain fez foi impactante!
Ao colocar modelos maduras na Paris Fashion Week, umas semanas mais prestigiosas e importantes para a indústria da moda, a marca trouxe para a ordem do dia uma questão relevante (e negligenciada!) no universo da moda!
Isso pode ser um forte indicativo de que a indústria da moda está reconhecendo o poder e a elegância da maturidade, e um sinal de uma mudança de paradigma no mundo da moda.
Modelos maduras: uma celebração tardia da beleza sem idade!
Ou seja, na moda, a inclusão de modelos maduras nos desfiles e campanhas publicitárias não se trata apenas de preencher uma lacuna, mas de reconhecer e celebrar um tipo diferente de beleza que transcende a juventude.
Essas modelos trazem para a passarela, em cada passo, uma confiança vivida; as rugas contam histórias, os olhos guardam sabedoria e a postura exala uma força serena.
Essas mulheres na passarela representam uma beleza que vem com a idade, não apesar dela.
Uma mudança que pode ser explicada por uma confluência de fatores!
Primeiro, os movimentos sociais como positividade corporal e conscientização do etarismo, que desafiaram os padrões tradicionais de beleza.
Vale lembrar que a positividade corporal ou “body positive” é um movimento que incentiva a aceitação do corpo como ele é, valorizando suas características físicas, capacidades, sexo e etnia.
Em segundo, os consumidores que estão exigindo uma representação mais diversa e identificável nas campanhas de moda, as palavras de ordem são inclusão, diversidade e aceitação.
Além disso, a “geração prateada”, pessoas com 50 anos ou mais, é uma faixa de mercado em crescimento com poder de compra significativo.
E as marcas estão reconhecendo esse segmento de mercado inexplorado e adequando suas mensagens para se conectar com essa geração, o que está promovendo mudanças significativas no mundo da moda.
De fato, durante décadas, as pessoas mais velhas foram ignoradas como alvo demográfico pelas indústrias da moda e da publicidade, que estavam ocupadas em atender ao cobiçado grupo demográfico dos 18 aos 34 anos.
Futuro da moda: um cenário de moda mais inclusivo!
Modelos maduras na passarela em plena Paris Fashion Week fazendo o maior sucesso apontam para essa mudança rumo a uma moda sem rótulos de idade, gênero, raça ou formas corporais.
Com isso, as marcas alcançam um público mais amplo, os consumidores se veem representados e as modelos maduras têm uma plataforma que mostra, além do seu trabalho, que a beleza não tem idade.
À medida que essa tendência ganha força, podemos esperar ver um cenário de moda mais diversificado e representativo, que celebre a beleza sem rótulos.
E essa não é a moda que queremos ver?
