Entenda o impacto da IA na indústria da moda.
Você, que me acompanha aqui no Blomme, deve ter percebido que nos últimos meses tenho escrito muito sobre o futuro da moda.
No entanto, creio que não poderia ser diferente. Explico melhor…
A indústria da moda está passando por uma transformação sem precedentes, impulsionada por avanços tecnológicos como a inteligência artificial.
E é exatamente isso que vou abordar neste post.
Seja você um apaixonado por moda ou um profissional da indústria, este texto lhe ajudará a entender o impacto da inteligência artificial generativa no futuro da moda.
O que há de novo nas Semanas de Moda!
As Semanas de Moda não apenas nos brindam com tendências passageiras, mas também servem como um termômetro da evolução da indústria da moda, revelando inovações e apontando para o futuro.
Uma das tendências mais empolgantes que despontou nas últimas edições é o uso da inteligência artificial (IA) generativa.
Embora o receio distópico da IA gere apreensão, a temporada passada da Semana de Moda de Nova York nos brindou com uma visão vanguardista e uma perspectiva otimista do uso dessa tecnologia na indústria da moda.
Façamos um breve parêntesis!
Você sabia que, ao contrário da IA tradicional, focada em tarefas analíticas e de classificação, os modelos generativos de IA criam artefatos inteiramente novos?
A IA generativa já é utilizada em uma variedade de aplicações, como criação de conteúdo, design gráfico, desenvolvimento de produto e entretenimento.
Na moda, a IA generativa já se destaca como uma força inovadora com potencial para revolucionar a forma como criamos, consumimos e experimentamos a moda.
O surpreendente desfile da Collina Strada!
Na Semana de Moda em Nova York, a designer Hillary Taymour, da marca Collina Strada, apresentou sua coleção primavera/verão 2024 criada com a utilização da IA generativa como ferramenta para ampliar a criatividade.
A designer é conhecida por injetar fantasia em seus designs e nessa coleção ela quis criar um mundo que fosse natural para ela.
“Está tudo péssimo. Estamos todos condenados. O mundo está pegando fogo, mas estamos fazendo um desfile de moda porque é isso que sabemos fazer”, disse Taymour à Vogue antes do desfile.
O resultado foi uma coleção fotorrealista que, com o toque refinado do humano, deu origem aos looks da primavera/verão 2024 projetados para “reconectar com a energia feminina universal em um tempo de conflito político e social”, segundo as notas de Taymour para o desfile.
Embora utilizar a IA para gerar os designs tenha sido a parte fácil, transformar os esboços em roupas reais para a produção exigiu um esforço conjunto que a equipe de design de Taymour conseguiu realizar ao longo de várias semanas, apesar das propostas iniciais “caprichosas, ousadas e fantásticas” do algoritmo.
Vale lembrar que a Collina Strada se destaca pela moda sustentável e engajada, e a estilista utiliza materiais inovadores como rose sylk (fibra de celulose orgânica feita a partir de roseiras), tecidos deadstock (transformando sobras em peças úteis) e algodão reciclado, demonstrando que a IA pode coexistir com práticas ecológicas e socialmente responsáveis.
De fato, assistindo ao desfile, vimos que Taymour gerou designs inovadores e únicos, que traduzem a estética da Collina Strada de forma criativa e sustentável.
A IA generativa foi utilizada como ferramenta para “recriar a Collina antiga e levá-la adiante”, com muita criatividade!
O que pensar disso tudo!
A visão progressista de Taymour aliada à responsabilidade social da Collina Strada nos oferecem um vislumbre do futuro promissor que a IA pode trazer para a moda.
Assim, entendo que a inteligência artificial não é simplesmente uma tendência, mas transcende o modismo na indústria da moda, configurando-se como um movimento com potencial para revolucionar toda a cadeia produtiva.
A IA generativa, como já se observa em outros setores da indústria, é uma força transformadora que vai redefinir o futuro do setor da moda, impulsionando a inovação, a eficiência e a sustentabilidade na indústria da moda, tudo isso em conexão com as necessidades das pessoas.
A coleção da Collina Strada exemplifica o potencial da inteligência artificial generativa para revolucionar a moda.
À medida que essa tecnologia avança, podemos esperar ainda mais inovações e criatividade emergindo nesse campo, abrindo um mundo de possibilidades para o futuro da moda.
Moda abraça a IA generativa: inovação disruptiva no setor!
De fato, segundo a consultoria McKinsey & Company, a IA generativa pode adicionar entre US$ 150 bilhões e US$ 275 bilhões ao lucro operacional dos setores de vestuário, moda e luxo.
Isso abre um mundo de possibilidades para a criatividade, pois conjuntos de dados não estruturados, como textos e imagens, podem ser transformados em designs 3D realistas, revolucionando a produtividade no mundo da moda.
Na verdade, as aplicações da IA generativa na indústria da moda são infinitas, abrangendo desde a cadeia de suprimentos e logística até marketing, operações de lojas, comércio digital e experiência do consumidor.
Isso inclui prever tendências, automatizar processos, segmentar o público-alvo, gerar e testar layouts de lojas, facilitando as experiencias virtuais de experimentação e compra de roupas e muito mais. As possibilidades são infinitas!
A IA na moda: o pioneirismo e a disrupção!
Embora a Collina Strada pareça ser a primeira marca de moda a usar IA generativa para criar looks físicos para a Semana de Moda em Nova Iork, Robbie Barrat, artista, designer gráfico e pesquisador, já havia previsto a moda gerada por IA há alguns anos.
Na verdade, ele pode ter sido um dos pioneiros na comercialização da moda com IA.
Em 2018, Barrat emprestou suas habilidades prodigiosas para criar a Balenciaga IA, uma coleção de moda prêt-à-porter que incorporava a IA generativa.
O diretor criativo, Demna Gvasalia, trabalhou em um processo de modelagem de alfaiataria para homens e mulheres, usando escaneamento 3D dos corpos e tecidos tradicionais como tweed e lã.
Os resultados foram peças de design futurista, como jaquetas e casacos com formas afiadas e elegantes.
“Uma pergunta que eu escuto muito é se a IA está ‘criativamente’ criando essas roupas, ou se está apenas imitando a Balenciaga. Não acho que a IA esteja sendo ‘criativa’ quando surge com essas coisas, mas também não acho que esteja apenas imitando a Balenciaga”, disse Barrat.
Utilizando extensa documentação online (lookbooks, desfiles, catálogos e campanhas de marketing) produzida pela renomada casa de moda sediada em Paris, Barrat criou um banco de imagens que propôs uma nova identidade para Balenciaga na era da inteligência artificial.
Com base nesse rico acervo, composto de milhares de imagens, o modelo de IA Balenciaga de Barrat foi capaz de criar sua própria interpretação de como as peças da Balenciaga deveriam ser.
“Quando os humanos estão projetando roupas, sabemos tudo sobre o contexto não visual que nossas roupas têm (como para que servem as bolsas e por que as pessoas as carregam, por que as pessoas usam casacos etc.). A rede neural realmente não entende ou se preocupa com essas coisas, então, em vez de uma bolsa, pode gerar apenas um pedaço de pano para a pessoa segurar – ou apenas gerar uma calça com um compartimento grande embutido, porque não entende que as bolsas são separadas das calças, já que em todas as imagens que vê elas estão sempre lado a lado. Também não entende simetria, mas eu realmente amo as roupas assimétricas. É apenas uma perspectiva totalmente alienígena”, explicou Barrat.
Posteriormente, em 2020, Barrat colaborou com a marca sueca Acne Studios, explorando as possibilidades do uso de IA na coleção masculina outono/inverno 2021.
Barrat utilizou a IA generativa com imagens das coleções passadas da Acne. E o resultado foi uma mistura surreal de designs, que a marca adaptou para o mundo real.
Outros exemplos de marcas pioneiras em explorar o potencial da IA na moda!
A Balenciaga em 2018, Acne Studios em 2021 e a Collina Strada em 2024 apresentaram coleções desenvolvidas com auxílio da AI generativa, mas antes disso já tivemos casos famosos do uso de IA na indústria da moda.
Por exemplo, em 2016, a Nike lançou o Nike Adapt, um tênis com design que se adapta automaticamente ao usuário; essa inovação demonstrou como a IA pode ser aplicada para criar produtos personalizados e funcionais.
Em setembro de 2018, quando tinha começado a trabalhar na Burberry, houve o lançamento da Burberry BSeries, um projeto do Riccardo Tisci, o ex-diretor criativo da marca, que consistia em lançamentos mensais limitados de roupas e acessórios exclusivos.
Naquela época, a empresa usou IA para analisar dados de vendas e preferências do cliente e embasar o design e a produção dessas coleções exclusivas.
O objetivo era manter uma comunicação constante com os clientes e oferecer produtos personalizados, tanto nas lojas físicas quanto online.
O primeiro lançamento da BSeries foi um unissex T-shirt branca e um moletom com o novo monograma TB da Burberry em vermelho, disponível exclusivamente, por 24 horas, através das contas do Instagram, WeChat, LINE e Kakao da Burberry, esta uma extensão da marca na plataforma social sul-coreana, onde os fãs e seguidores podem acompanhar as últimas novidades e tendências da Burberry.
Também em 2018, a Tommy Hilfiger, em colaboração com a IBM e o Fashion Institute of Technology (FIT), utilizou a IA no projeto chamado Reimagine Retail, que inspiraram o design e aprimoraram experiências em toda a cadeia de valor com resultados notáveis, como:
- o casaco tecnológico xadrez de Grace McCarty, que apresenta estampas geradas pela análise de centenas de milhares de imagens arquivadas da Hilfiger.
- O vestido SolarActive de Amy Eun, que usa fios solares ativados pela luz solar.
- O casaco bomber de Luis Hernandez, produzido com uma máquina de tricô 3D e estilizado com base em feeds de mídia social e imagens enviadas.
- O casaco avatar de Stefka De Ruiter, personalizado para refletir a personalidade do usuário.
Essas marcas pioneiras demonstram como a IA está transformando a indústria da moda, desde a criação de designs até a personalização de produtos e aprimoramento da experiência do cliente.
Além dessas, inúmeras outras marcas já estão usando a IA nos seus processos de trabalho, um movimento irreversível.
Um novo capítulo na história da moda!
Embora existam desafios a serem superados, como as implicações éticas do uso da IA e o impacto social da automação na indústria têxtil, essa tecnologia possui um enorme potencial para revolucionar a moda e torná-la mais criativa, sustentável e inclusiva, acessível a todos!
Acredito que este é apenas o começo de uma nova era para a moda, na qual a IA generativa se une à criatividade e à expertise humana para dar vida a designs inovadores, sustentáveis e que refletem os valores e as necessidades do mundo contemporâneo.
Se você tem paixão pela moda, este é o momento perfeito para se conectar com o futuro!
