Uma sala cheia de kaftans, os mais variados tipos, modelos e padronagens!
Estava no Palácio de Topkapi em Istambul, quando me deparei com a mais vasta coleção de kaftans que eu já havia visto na minha vida.
O palácio fica na parte histórica de Istambul, um conjunto de sítios arqueológicos e museológicos que fazem parte do Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1985.
A coleção exposta no palácio conta com uma centena de peças, entre as quais algumas que pertenceram aos sultões otomanos, suas concubinas e filhos, feitos de materiais prestigiados, principalmente brocado de seda ou lã.
Como professora de moda que ama uma boa história não me contentei com as poucas informações que o áudio guia do museu me dava.
Mergulhei no vasto mundo daquela vestimenta exótica, e é o que conto aqui!
Como tudo começou!
Estudiosos contam que o kaftan se originou provavelmente na Pérsia e acabou se espalhando e popularizando em todo o mundo árabe.
Vale lembrar que o kaftan (também caftan) é um manto de corte estreito, longo e com mangas, um decote profundo ou totalmente aberto até o chão, às vezes abotoado ou amarrado com uma faixa.
Podem ser feitos de muitos tecidos, mas a maioria deles é de seda, lã ou algodão.
Os sultões otomanos dos séculos 14 ao 18 usavam kaftans ricamente decorados, que também eram dados como recompensa a importantes generais.
Além disso, os kaftans menos ornamentados eram usados por homens e mulheres, em especial acadêmicos e funcionários de alto escalão, que faziam parte da elite urbana.
Como conta o Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, que tem muitos kaftans em sua coleção, essa peça tem a seguinte origem:
O tipo de vestimenta referido como kaftan era conhecido na Pérsia e no Império Otomano antes de chegar ao Marrocos, provavelmente no século 16. Kaftans feitos de materiais elegantes, como brocado de seda ou veludo, eram reservados para ocasiões especiais.
Sabe-se que os kaftans eram usados por homens e mulheres em variações em todo o planalto iraniano, através do norte da África, e na África Ocidental.
E como conta Daniel Delis Hill no livro The History of World Costume and Fashion, na Arábia, nos primórdios do império islâmico, a vestimenta masculina mais comum era a túnica longa e folgada, o kaftan.
Em sua forma mais simples, a túnica árabe foi provavelmente cortada em T, da mesma maneira que a túnica romana e o kalasiris egípcio.
Os kaftans eram frequentemente usados cingidos por uma faixa larga, às vezes longa o suficiente para envolver a cintura várias vezes.
Na Europa e na América do Norte, os kaftans raramente eram usados a não ser por viajantes “excêntricos” que os traziam de expedições exóticas, como parte da moda do orientalismo e de estilo turco adotados na intimidade, em ambientes internos, durante o século 19.
Então os kaftans ganharam o mundo ocidental!
Na década de 1950 e início dos anos 1960, os kaftans começaram a aparecer na alta moda quando foram incorporados nas coleções por costureiros franceses, incluindo Christian Dior e Balenciaga.
Em 1966, a Vogue descreveu o kaftan como uma peça essencial para o jet set e o fotografou em uma variedade de estilos, dos tradicionais importados às adaptações ocidentais:
As vestes clássicas do Oriente Médio estão agora, de repente, em todo o mapa contemporâneo – inspiração de grandes costureiros e a descoberta de cada mulher na beleza…
O kaftan se prestou bem à moda da década seguinte, fornecendo uma silhueta simples, elegantemente minimalista como visto nos designs de Halston nos anos 1970.
Nessa época, algumas mulheres ocidentais usavam o kaftan em casa, enquanto, ao mesmo tempo, silhuetas mais tradicionais eram trazidas do norte da África ao Afeganistão para os Estados Unidos e Europa por jovens hippies.
Contribuiu para a popularidade do kaftan no ocidente o exotismo da peça, bem como o conforto e por ser fácil de usar.
Apesar do seu enorme sucesso, desde os meados da década de 1970 até a década seguinte, o kaftan desapareceu da maioria das passarelas de alta moda, tornando-se associado ao vestuário de resort.
Não obstante, os kaftans se tornaram desejáveis novamente graças a Tom Ford!
No desfile da Gucci de Primavera/verão 1996, Tom Ford reinterpretou a silhueta do kaftan, levando-o para o reino do erótico.
Assim, a peça ganhou as passarelas, e, com isso, muitos designers, que buscavam injetar em suas coleções um toque “oriental” e nostalgia dos anos 1960, redescobriram a versatilidade do kaftan.
Estilistas como Temperley e Matthew Williamson reavivaram continuamente o místico e boêmio kaftan, e outros como Naeem Khan e Elie Saab o trouxeram para o tapete vermelho com versões ornamentadas e bordadas.
Hoje, a silhueta ousada e gráfica do kaftan permite que os designers coloquem seu toque único nele, mantendo geralmente a facilidade de uso e o conforto que o tornam tão atraente para as mulheres em todo o mundo.