Estilistas Japoneses de vanguardia

Estilistas japoneses, a vanguarda e as subculturas!

Saiba tudo sobre os estilistas japoneses e as subculturas das ruas de Tóquio. Ouça aqui:

O Japão, desde os anos 60, vem influenciando a moda internacional com criatividade e anticonformismo.

Isso graças aos estilistas de vanguarda e às subculturas jovens que ganharam espaço após a ocupação norte-americana no pós-guerra e criaram uma moda transgressiva!

Num país muito ligado a tradições, que valoriza a disciplina, eles rebelaram-se contra as expectativas impostas pela sociedade e romperam com os padrões vigentes.  

Lá, desde cedo, os jovens aprendem que existe uma dualidade entre o “eu” e o que se exterioriza e prevalece a vontade da coletividade ante a do indivíduo, o que torna a sociedade japonesa previsível e, até mesmo, estandardizada. 

Mas isso só na superfície! 

A individualidade quer achar seu caminho, o conflito estava lá, latente, pronto para eclodir. 

Provavelmente, esse é um dos motivos pelo qual se deu a ascensão de estilistas japoneses de vanguarda, criativos, transgressores, como Kenzo Takada, Issey Miyake, Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo.

Esses estilistas, alguns já vinham marcando presença na moda desde o fim dos anos 60 e 70, se estabeleceram em Paris e, como nos conta Mairi Mackienze no livro “Ismos. Para Entender A Moda”, causaram um “impacto explosivo sobre a moda na década de 80”. 

Eles revolucionaram os conceitos pré-estabelecidos, com seus desenhos intelectualizados e suas peças assimétricas, desconstruídas e envelopadas; muito conceituais, subverteram os padrões estéticos da moda e fizeram com que o vanguardismo japonês, também conhecido, por muitos, como japonismo, virasse ponto de referência para a moda ocidental.

O Japonismo

Detalhe, a influência da estética japonesa na moda não é nova!

Vale lembrar que o japonismo, na realidade, se refere ao movimento estético que ocorreu no final do século XIX e início do século XX, resultante da influência da cultura japonesa na arte ocidental, incluindo uma variedade de técnicas, temas e motivos, inspirados na estética japonesa.

O japonismo se enraizou em diversas expressões artísticas, como a música, pintura, literatura e, também, na moda.

Naquela época, a moda do Japão, especialmente os quimonos, fizeram grande sucesso na Europa; com sua forma, corte e motivos decorativos exóticos, desconhecidos no mundo ocidental, tornaram-se fonte de inspiração para os couturiers franceses.

Não obstante, no Japão, o quimono era ligado ao ritual e à tradição, centrado na relação da roupa com o corpo, sem revelá-lo, mas nessa releitura, perdeu parte do simbolismo e estrutura original; “ocidentalizado”, o quimono se torna mais solto, leve, fluído, um símbolo de vanguarda.

Assim, na moda, com o japonismo, os estilistas ocidentais incorporaram “elementos japoneses” nas coleções. 

Já no vanguardismo japonês, a partir dos anos 70, a verdadeira novidade não era mais a cultura japonesa por si só, mas a visão e as criações de estilistas e designers japoneses vindos do oriente para a Europa, transgressores, propondo uma nova estética! 

Os estilistas japoneses de vanguarda!

Na década de 60, a legendária Rei Kawakubo, que fundou a Maison Comme des Garçons em Tóquio, revoluciona o guarda-roupa feminino com a sua visão avant-garde, incorporando referências masculinas na construção das peças. 

Depois de Kawakubo, uma nova era de designers celebridades japonesas emergiu no cenário fashion.

Tadashi Shoji, com seus vestidos de gala vistos e revistos no red carpet; Issey Miyake, um dos mais famosos estilistas japoneses, amado pelos fashionistas por empregar com perfeição a técnica do plissê em suas peças; e Yohji Yamamoto, o mestre da tradição sartorial, famoso pelo tailoring de vanguarda e sua colaboração com a Adidas. 

O movimento estético criado por esses estilistas japoneses de vanguarda, que teve seu auge nos anos 80, rompeu com os padrões da época e colocou, pela primeira vez, o Japão como referência para a indústria da moda no mundo. 

Ignorando a ênfase ocidental dada às formas longilíneas e às proporções anatômicas, esses estilistas se valeram de novas dimensões e texturas. 

Roupas recortadas, rasgos estratégicos, cores pardas e escuras e texturas ousadas, ampliaram os conceitos estéticos até então vigentes na moda. 

Conta Mackienze que as coleções de Rei Kawakubo, para a Comme des Garçons, e Yohji Yamamoto de 1982, lançadas em Paris em 1981, provocaram um verdadeiro choque, desafiando os conceitos da moda vigentes, com suas modelos em trajes esfarrapadas, trapos adornando os cabelos, sem maquiagem, lábio inferior arroxeado, parecendo um hematoma.

Segundo essa autora, o impacto foi inquestionável, a ponto do Jornal francês Libération declarar: “A moda francesa encontrou seus mestres: os japoneses”. Paris nunca havia dado lugar a tanta subversão!

Dá para o imaginar o frisson, não? E esse foi só o começo…

As novas gerações de estilistas japoneses!

Seguindo os passos de seus antecessores, outros estilistas e designers japoneses despontaram no cenário da moda internacional, com muita criatividade e inovações, merecendo destaque:  

Tsumori Chisato

A estilista começou a carreira trabalhando para a Maison Issey Miyake antes de lançar a sua própria marca.

Ela surpreendeu o mundo com as suas estampas. 

Amante da cultura francesa, abriu a sua primeira flagship no bairro de Marais, em Paris, em 1999. Na boutique, ela mostra o seu amor pela arte por meio da colaboração com diferentes artistas plásticos e fotógrafos. 

Muitas de suas inspirações vêm da cultura japonesa e dos próprios mangás ou revistas em quadrinhos.

Nicola Formichetti

Nascido no Japão, filho de pai italiano e mãe japonesa, ex-estudante de arquitetura, largou a universidade nos anos 90 para trabalhar numa loja de roupas e, segundo contam, ir à discoteca todas as noites. 

Uma escolha que deu certo! 

Hoje, é diretor criativo e proprietário da NICOPANDA, uma marca lifestyle de moda excêntrica e acessível.

Durante o seu percurso, ele colaborou com diversas revistas de moda famosas e marcas como Uniqlo e Diesel, além de ser queridinho de celebridades, como Lady Gaga. 

Shinsuke Takizawa

Designer japonês, fundador da marca de streetwear Neighbourhood. 

As suas peças mostram profunda influência da cultura punk e rock e do tempo em que estudou em Londres. 

Takizawa foi pioneiro na estética streetwear de Urahara, nome pela qual ficou conhecida a zona que rodeia a estação de Harajuku em Tóquio.

É considerado uma das figuras mais influentes da moda streetwear contemporânea. 

Hiroko Takahashi

Designer têxtil, tornou-se conhecida pela reinterpretação do tradicional quimono. 

O trabalho de Hiroko é caracterizado pela simplicidade, com elementos gráficos essenciais compondo suas estampas. Segundo ela, as linhas retas e círculos são as formas que configuram o universo. 

Um dos seus quimonos pode ser visto na mostra “Kimono: Kyoto to Catwalk”, inaugurada em 2020, no museu Victoria e Albert, em Londres.

Junko Shimada

Estilista conhecida, no início da carreira, como “a mais parisiense de todos os designers japoneses”, hoje, mostra nas coleções da marca que leva o seu nome uma personalidade audaz. 

Com um estilo que se contrapõe ao minimalismo japonês, a estilista mistura estampas diversas com grande maestria.

Shimada conta que encontrou na estética francesa, mais especificamente parisiense, a inspiração para se libertar das amarras do tradicionalismo japonês. 

Moda, para ela, trata de paixão e deve vir de dentro! 

Yoshio Kubo

Estilista japonês cujas coleções se distinguem pelos seus múltiplos significados, formas e códigos, tudo com um admirável senso estético, oferecendo um vivido contraste à tendência da sociedade ao conformismo.

Segundo ele, as pessoas não pensam mais no que ou como se vestem, continuam simplesmente comprando, os meus designs são feitos para levar as pessoas a pensarem novamente, a se perguntarem sobre o significado dos símbolos, linhas, cortes, enfim das peças que vestem

Design de vanguarda, não?   

Satoshi Kondo

Diretor artístico e head designer da Maison Issey Miyake, fala do ritual de se vestir, de encontrar outfits que deixam as pessoas felizes e que isso é o que lhe inspira a criar. 

De fato, as peças do estilista se movem, dançam e falam de alegria! 

Junya Watanabe 

Ex protégée de Rei Kawakubo, é conhecido pela inovação e pelo gosto por tecidos sintéticos e técnicos.

Ele é muitas vezes descrito como “techno couture”, graças as suas peças não usuais e extremamente estruturadas, com caráter ultramoderno, e a utilização de materiais tecnológicos.  

As subculturas japonesas na moda!  

A moda japonesa tem estilos e tendências peculiares.  

No Japão, ao contrário do mundo ocidental, as mais famosas modelos são pessoas normais, simplesmente, com um estilo único, que caminham nas ruas de Tóquio, o cenário perfeito. 

Muitas gerações de jovens se reuniram nas estreitas ruas de Harajuku! 

Lá, por exemplo, foi o epicentro da subcultura kawaii, criada em torno de símbolos fofos japoneses, como a própria Hello Kitty, que conquistou o guarda-roupa de jovens japonesas.  

Assim como ganharam espaço, nas ruas desse distrito, as Lolitas e Gothic Lolitas, só para falar em algumas.

Vale lembrar que Lolitas são jovens que se inspiraram nos vestidos de Maria Antonieta, na corte francesa e na cultura rococó, para criar uma identidade visual muito própria, transgredindo, e muito, o tradicionalismo minimalista japonês. 

Os anos 90 foram os anos de ouro da moda street de Harajuku, período extremamente fértil e criativo na cultura das ruas de Tóquio. 

E a nova estética japonesa de Urahara logo começou a ser vistas pelo mundo afora. 

Muitos dizem que, nos últimos anos, por pressão dos grandes nomes do fast fashion, o distrito de Harajuku perdeu a sua força; fábricas e prédios foram construídos lá, roubando a cena dos jovens nas ruas!     

No entanto, Harajuku deixou algo de extraordinário para a moda.  

A moda do Japão para o mundo!

O streetwear contamina as peças de alfaiataria de grandes nomes da moda, dos desfiles às ruas das cidades mais cosmopolitas do mundo.

Peças assimétricas e oversized, quimonos, acessórios ousados, plissês e peças genderless não deixam dúvida da influência dos estilistas de vanguarda japoneses e das subculturas, que nasceram nas ruas de Tóquio, no mundo fashion.   

Numa sociedade, muito ligada às tradições, aos rituais e à disciplina, estilistas e subculturas, que se rebelaram contra as expectativas por ela impostas e romperam com os padrões vigentes, criaram algo nunca visto na moda!

Assim, hoje, moda japonesa é, sem dúvida, um espaço para criatividade ousada e anticonformista, que descontrói o entendimento da moda ocidental, dando espaço e contribuindo para se criar algo de novo e genuíno. 

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