História do jeans

Jeans: a história da peça mais democrática do mundo

Nas passarelas do mundo afora, assistimos o retorno de peças icônicas dos anos 2000, calças cargo, conjuntos de veludo, camisetas com frases icônicas, calças jeans com cintura baixa e o total look em denim.

É como se voltássemos no tempo, lá pelo início dos anos 2000, com Britney Spears e Justin Timberlake vestindo denim da cabeça aos pés na American Music Awards.

O jeans voltou com força total no ano passado, nas coleções de primavera/verão e outono/inverno 2022 e, como toda tendência de moda em constante mudança, na pré-coleção outono/inverno 2023 ganhou uma versão tipo raive com proporções mais que generosas, dividindo a passarela com peças tailoring com inspiração futurística.

Assim é a moda: cíclica!

A calça jeans que surgiu como uma peça workwear, do vestuário de trabalhadores, completamente “out” do mundo da moda, hoje é objeto de desejo da GenZ aos Millenials, dos descolados aos minimalistas, dos normcores aos fashionistas.

Certamente você tem uma calça jeans que adora no seu guarda-roupa e faz você sentir incrível!

Usada por pessoas de todas as idades, gêneros, origens, culturas e classe social, a calça jeans é considerada como uma das peças mais democráticas da história da moda.

Da passarela ao street style, as novas tendências do jeans incluem uma seleção ampla de ajustes, lavagens e estilos, além de uma atenção mais próxima à inclusão e às práticas sustentáveis.

De fato, o jeans é uma peça com ótimo custo-benefício, mas, nas últimas décadas, virou um símbolo de uma moda não-sustentável em razão da quantidade de água necessária e resíduos gerados no processo produtivo.

Com a questão da preservação do meio ambiente e da sustentabilidade entrando na ordem do dia e pesando nas decisões dos consumidores, vemos um movimento na indústria da moda na busca de inovações e alternativas de produção do jeans.

Junte-se a nós nessa viagem na história da peça mais democrática do mundo!

Afinal, como disse certa vez Diana Vreeland, a lendária editora editora-chefe Vogue e Harper’s Bazaar, com sua criatividade ilimitada e humor surrealista, o jeans é “a coisa mais linda desde a invenção da gôndola”.

O jeans e o denim na história da moda

Primeiro há uma certa confusão quando se fala em jeans, palavra é usada tanto para se referir tanto à calça, quanto ao tecido usado na sua fabricação, o denim.

De onde veio o denim?

O uso mais antigo de denim que se tem notícia é de um tecido de sarja comumente usados em uniformes militares de Nîmes, na França, no final do século 17.

Contam que os tecelões de Nîmes tentaram reproduzir o famoso veludo cotelê feito Gênova, na cidade portuária na Itália, mas sem sucesso. 

Com tentativa e erro, desenvolveram esse tecido grosso e resistente que recebeu o nome do seu local de origem“serge de Nîmes”, ou sarja de Nîmes, que, ao ser abreviado para “de Nim”, originou “denim”.

Esse tecido não era o denim de algodão que conhecemos hoje, mas uma mistura de seda e lã.

O denim começou a ser usado para produzir calças usadas pelos marinheiros na região da Gênova, Itália, que também se tornou produtora da sarja de Nîmes na época. 

Segundo a Levi´s Co., o denim feito todo de algodão foi criado pela primeira vez na Inglaterra e depois aperfeiçoado nas fábricas americanas.

Na verdade, há uma discussão na moda se a palavra “denim” é uma versão anglicizada desse tecido francês, a sarja de Nîmes, ou se o nome francês foi dado a um produto inglês já existente para lhe dar prestígio. 

De toda forma,  o denim utilizado no jeans, considerado por muitos americano por excelência, originou-se longe dos Estados Unidos da América. 

Afinal, o que é denim?

Denim é um tecido durável e resistente de sarja de algodão, normalmente usado para fazer calças jeans, jaquetas e macacões. 

Para criar o denim, os fios da trama horizontal passam por baixo de dois ou mais fios da urdidura vertical. Esse processo cria nervuras diagonais no denim que o distingue do cotton duck, um tecido de sarja semelhante.

Esse tecido, obtido a partir do algodão trançado, utilizado para elaboração das calças jeans, tradicionalmente azuis, o blue jeans, aceita outros tipos de tingimentos e composições diferentes. 

Quando ganhou status na indústria da moda, surgiram variações.

Com relação ao tingimento, é encontrado em diversos cores e tons, predominando o azul, do escuro ao delavé, e o preto. 

Quanto à tecelagem, o denim é feito principalmente de algodão puro, mas muitas vezes é combinado com outras fibras como cânhamo, elastano e poliéster. 

Qual é a história do jeans azul? 

Muitos dos tecidos produzidos na Europa foram exportados para a América do Norte, incluindo a sarja de Nîmes, que chamou a atenção do empresário Levi Strauss na década de 1860.

 Strauss usou esse tecido, rebatizado de denim, para criar o jeans.

A denominação jeans vem de “Gênes”, nome francês para Gênova, que acabou batizando as resistentes calças de trabalho usadas pelos marinheiros feitas nesse tecido de algodão grosso, originalmente fabricado em Nîmes no século 19 e, posteriormente, em Gênova. 

Assim, a expressão blue jeans também teria se originado nesse contexto, significa o azul de Gênova, do francês “bleu de Gênes”.

A tonalidade usual do jeans, o azul, é obtida a partir do corante índigo. 

Esse corante orgânico, originário da Índia, feito a partir da planta Indigofera tinctoria, era um luxo raro na Europa na Idade Média por causa dos altos impostos cobrados pelos intermediários como persas e gregos. 

Com a descoberta da rota marítima para a Índia, esse problema foi resolvido, e as plantas de índigo foram trazidas para o ocidente, o que viabilizou o seu uso no século 19. 

O índigo sintético, uma variante mais barata e com coloração mais duradoura, descoberta no final do século 19, substituiu o orgânico com sucesso.

Todavia, a calça jeans, ou jeans, como conhecemos nos dias de hoje é uma evolução das calças de trabalho criadas por Levi Strauss nos EUA na década de 1850. 

A origem da calça jeans

Levi Strauss, o inventor dessa peça considerada a quintessência do vestuário americano, nasceu em Buttenheim, Baviera, em 26 de fevereiro de 1829, filho de Hirsch Strauss e sua segunda esposa, Rebecca Haas Strauss. Ele tinha três irmãos e três irmãs. 

Dois anos depois que seu pai morreu de tuberculose em 1846, Levi e suas irmãs emigraram para Nova York, onde seus dois irmãos mais velhos tinham uma empresa atacadista de produtos secos com sede em Nova York chamada “J. Strauss Brother & Co”.  

Quando as notícias da corrida do ouro na Califórnia chegaram ao leste, Levi viajou para São Francisco. 

Em 1853, com 24 anos, ele estabeleceu um negócio atacadista de produtos secos em seu próprio nome, a “Levi Strauss & Co.”, representante na costa oeste da empresa da família de Nova York.

Na loja, vendia botões, lenços, roupas, botas, outros produtos para as pequenas lojas de varejo do oeste americano e, particularmente, lona utilizada nos veleiros, também compradas pelos garimpeiros para cobrir suas carroças e em barracas, que ele utilizou para confeccionar calças de trabalhos.

Entre os produtos mais vendidos em sua bem-sucedida loja estavam essas práticas calças largas, fabricada nessa lona, duráveis, com bolsos resistentes, nos quais era possível colocar ferramentas com segurança e pepitas de ouro, usadas por cima das roupas normais. 

Não obstante o sucesso dessas primeiras calças feitas por Levi Strauss, esse tecido, embora muito resistente, dificultava a mobilidade.

Levi começou a utilizar o denim, igualmente resistente, mas mais maleável, tingido de azul com o corante índigo orgânico, cor que não deixava tão perceptível manchas e nódoas como os tecidos crus e mais claros.

Um dos clientes de Levi era Jacob Davis, imigrante nascido na Letônia em 1934, alfaiate na cidade de Reno, no estado de Nevada.

Contam que a esposa de um trabalhador local pediu a Jacob que fizesse um par de calças para o marido que não rasgassem facilmente. 

Jacob fortaleceu suas calças colocando rebites de metal em pontos de tensão como nos cantos dos bolsos. 

Essas calças rebitadas foram um sucesso entre os mineiros, cowboys e trabalhadores. 

Jacob, sem dinheiro para patentear seu processo, ofereceu a sociedade a Levi Strauss, de quem ele comprava a sarja de Nîmes para fazer suas calças rebitadas.

Assim, a invenção de Jacob Davis foi um aprimoramento das calças de trabalho já populares, vendidas inclusive por Levi.

Em 20 de maio de 1873, a patente foi concedida a Jacob Davis e Levi Strauss.

A calça jeans, um sucesso genuíno, eram chamados de waist overall ou “macacões de cintura”.

Em 1890, quando a patente passou a ser de domínio público, o jeans original com rebites de cobre recebeu seu icônico nome “Levi´s 501”. 

Quando a corrida do ouro desacelerou por escassez do metal, muitos trabalhadores das ferrovias já compravam as calças duráveis, e Levi´s Strauss & Co. passou a fabricação em escala industrial; as peças eram vendidas a US$1,25.

Após a expiração da patente de Strauss e Davis em 1890, outros fabricantes reproduziram as famosas calças jeans a Blue Bell, mais tarde Wrangler (1904), e a Lee (1911). 

Durante a Primeira Guerra Mundial, os jeans eram usados pelos trabalhadores.  

Em 1918, a Levis cria a Freedom-Alls, um tipo de túnica com calça projetada para dar às mulheres liberdade de movimento, libertando-as das roupas restritivas da época.

Nas 1920 e 1930, Hollywood produziu filmes retratando a vida dos cowboys, nos quais atores famosos como John Wayne e Gary Cooper usavam calça jeans, passando uma imagem glamourosa, o que fez essa peça ganhar espaço no vestuário masculino. 

Na década de 1930, a Levi´s produziu o primeiro modelo de calças jeans feminino. Algumas atrizes como Ginger Rogers apareceram usando calças jeans, o que estimulou o seu uso também entre as mulheres.  

Nesse período, a Vogue chamou o jeans de “western chic”.

Com o início da 2ª Guerra Mundial, a produção dos jeans caiu, mas o mundo conheceu os jeans comprados pela Marinha dos EUA e vestidos pelos marinheiros. Os soldados americanos começaram a usá-los quando estavam de licença, o que contribuiu para difundir o seu uso. 

Na década de 1950, os jovens passaram a usar jeans como uma forma de expressão da identidade e da rebelião contra as convenções, os costumes e o establishment. 

Filmes de Hollywood como  “The Wild One” (1953) com Marlon Brando e “Rebel Without a Cause” (1955) com James Jean contribuíram para essa imagem dos jovens rebeldes vestidos com jeans. 

Nesse período, também estrelas do rock’n’roll ajudaram a consolidar a calça jeans como cool, como Elvis com suas camisetas brancas, calça jeans e jaquetas de couro estilo aviador, representando um lado mais descontraído dessa juventude.   

Assim, o jeans era um dos símbolos de contracultura e usados para desestabilizar as regras. 

Com isso, alguns lugares públicos, como escolas e teatros, proibiram o uso do jeans por causa do que eles simbolizavam, aumentando ainda a sua popularidade entre os jovens.

Em 1958, um jornal publicou que 90% dos jovens americanos vestiam jeans em todas as ocasiões, a não ser para dormir ou ir à igreja.

Nessa época, o uso do jeans se espalhou pela Europa e no resto do mundo.

Também as feministas escolheram o jeans como forma de luta pela liberdade e igualdade de gênero.

Os hippies adotaram as calças de jeans, pantalonas com boca de sino, e batas indianas como uma forma de protesto contra a guerra do Vietnam e a sociedade de consumo, nos anos 1960 e no início dos anos 1970. 

Nesse período, o jeans passou da contracultura para a moda, e os fabricantes começaram a produzí-lo em diferentes estilos.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o mundo fashion começou a se interessar pela peça como a Fiorucci, como seus jeans justos, escuros, caros e exclusivos, o oposto boca de sino desbotada preferida dos hippies. 

Eles se tornaram um sucesso no jet set e no Studio 54, a lendária discoteca nova-iorquina dos anos 70, que reuniam celebridades como Andy Warhol, Liza Minelli e Bianca Jagger.

Em 1976, Calvin Klein trouxe a calça jeans para a passarela, reconhecendo o status dessa peça no mundo da moda.

Despois disso, várias marcas se voltaram para o jeans como Guess, Versace, Dolce & Gabbana e Dior. 

Atualmente, praticamente todas as marcas de luxo produzem calças jeans.

De fato, o jeans foi uma criação tão genial e relevante para a história da moda a ponto de ser reconhecida e exaltada por ninguém menos que Yves Saint Laurent, o prodígio da moda:

Eu sempre disse que gostaria de ter inventado o jeans… eles têm expressão, modéstia, apelo sexual, simplicidade – tudo o que espero nas minhas roupas.

Junto com essa invasão do mundo fashion, nas décadas que seguiram, surgiram os mais diversos tipos e estilos de jeans como o oversized do hip-hop, o jeans escuro dos descolados e intelectuais, Levi’s vintage pelos aficionados.

A geração do milênio, por sua vez, mantém seus jeans de cintura alta, já o TikTok, que é claramente dominado pela Geração Z, é sem dúvida dominado pelo amor por jeans de cintura baixa. 

De uniforme de trabalhadores à passarela, o jeans tornou-se uma peça indispensável no guarda-roupa de milhões de consumidores, e quase todas as marcas de luxo e designers de alta moda já criaram o seu. 

Mas jeans, a calça mais vendida no mundo é também uma peça atemporal, democrática e expressão da utopia, criatividade e liberdade individual.

A despeito dessa apropriação pelo mundo fashion, o jeans não perdeu, de todo, a sua força transgressiva e antimoda em vários momentos na história, como os dos “uniformes” dos punks e grunges, os desfiados e os desconstruídos dos estilistas de vanguarda japoneses e os protagonistas nos looks clicados na moda de rua. 

Jeans, uma das peças mais democrática do mundo da moda

Passados quase cento e cinquenta anos desde a sua criação por Levi Strauss e Jacob Davis, a calça jeans tornou indispensável no quotidiano de milhões de pessoas pelo mundo afora.

Usadas por mineiros, cowboys, rebeldes, estrelas do rock, presidentes e homens e mulheres no dia a dia, essas peças funcionais deixaram de ser roupas com as quais pessoas apenas trabalhavam, mas passaram a fazer parte do nosso dia a dia, com as quais vivemos as nossas vidas. 

Hoje é objeto de desejo dos diversos tipos de pessoas, dos jovens e descolados aos mais maduros e clássicos, dos trabalhadores aos de alta renda. 

O fato do jeans ser uma das peças mais versáteis e ecléticas que podemos ter no guarda-roupa e a calça mais vendidas na história da moda, aliada à cobrança de práticas sustentáveis na sua produção pela sociedade, devem impulsionar inovações na sua cadeia produtiva. 

De fato, a indústria da moda está tentando reagir e inúmeras marcas já oferecem alternativas: o jeans sustentável, feito a partir de algodão orgânico, o jeans reciclado, processos produtivos que gastam menos água e o aprimoramento do tratamento da água utilizada na lavagem do tecido antes de devolvê-la para a meio ambiente.

Assim, o que começou como uma invenção workwear para o trabalhador americano, símbolo de progresso, tornou-se uma forma de autoexpressão autêntica, uma peça atemporal e icônica que move uma das engrenagens da história do vestuário e da moda no mundo.

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