moda consciente

Moda consciente: um desafio para a publicidade!

Um post para quem é apaixonado pelos caminhos da moda e/ou trabalha no meio. Se você seguir em frente vai entender o porquê. 

Uma imagem inesperada

Dias atrás, quando terminei de preparar uma aula sobre moda circular, o último módulo de um dos cursos que dou em Paris, desejava um pouco de ócio criativo.

Fui ver as novidades na Vogue Business, que, por conta das aulas (e tudo que envolve viajar semanalmente de Roma para Paris), ainda não tinha tido tempo para ler. 

Com a velocidade e rapidez que informações são geradas, manter-se atualizado é um desafio nos tempos atuais, mas fundamental para uma professora!

Gosto muito da Vogue, que traz muitos conteúdos interessantes e atualizados; detalhe, não estou sendo paga para fazer propaganda da revista. 

Desde adolescente, depois de me encantar pelo “Diabo Veste Prada” e acompanhar de perto o trabalho de Anna de Wintour à frente da Vogue americana, criei o hábito de ler a revista.

A Vogue Business é uma edição online sobre a indústria da moda lançada em janeiro de 2019; deixo o link aqui para quem se interessar: Vogue Business.

Mas voltemos ao que quero contar para vocês!

Uma campanha inspiradora

Eu estava bem hygge sentada no sofá da minha sala numa cidadezinha perto de Roma, com uma xícara de chá ao lado (aqui na Itália ainda está frio!), conferindo os artigos da Vogue e meu olhar parou em algumas imagens com mulheres deitadas na grama com mensagens inspiradoras: 

 “Cansada da andar com pressa, quero ouvir o farfalhar das folhas”

“Não quero mais estar exausta, só quero deitar na grama”

Parei para ler o artigo, claro!

Lembrei-me de vários momentos do meu trabalho que antecederam os desfiles das coleções. 

Quem trabalha na moda sabe como o estresse e o burnout pode nos atingir, facilmente, como conto nos meus posts. 

Eram algumas das imagens veiculadas na campanha “Girls Just Wanna Grow Plants”, em português “Meninas Só Querem Cultivar Plantas”, idealizada pela Agency for Nature, lançada recentemente no Reino Unido.

A mensagem é clara: a felicidade não está em bens materiais, mas em experiências autênticas e na conexão com a natureza.

Ao conectar-se com a natureza, podemos liderar a mudança para um futuro mais sustentável. 

Assim, em vez de apenas promover produtos e tendências, essa iniciativa ousada busca redefinir o que significa estar na moda, incentivando as pessoas a se reconectarem com a natureza e adotarem um estilo de vida mais consciente e sustentável. 

A campanha “Girls Just Wanna Grow Plants” é um convite para todos se unirem nesse movimento, cultivando um mundo mais verde e próspero para as próximas gerações.

E, pensando na  moda, não deixa de ser um bem-vindo chamamento ao slow fashion e slow life

Desafiando a Indústria da Publicidade

Com a responsabilidade de 3.000 anúncios por dia no Reino Unido, a indústria da publicidade tem um papel crucial na formação do comportamento do consumidor. 

A Agency for Nature, responsável por essa e outras campanhas, reconhece esse poder e o utiliza para promover a sustentabilidade, combatendo o consumo excessivo e o greenwashing.

Vejamos, pois, essas duas questões!

Repensando o consumo excessivo

De fato, muitas vezes a publicidade induz as pessoas a comprarem coisas que não precisam e nem sabiam que queriam, uma lógica que está no cerne do fast fashion na indústria da moda, mas não só! 

Em 2022, a Purpose Disruptors, uma organização sem fins lucrativos, revelou que a indústria de publicidade gerou 208 milhões de toneladas de “emissões anunciadas” – um aumento de 11% desde 2019; essas emissões correspondem aos gases de efeito estufa resultantes do aumento das vendas impulsionado pela publicidade.

Assim, por outro lado, essa campanha “Girls Just Wanna Grow Plants” é um exemplo da comunicação, por meio da publicidade e marketing,mas na direção oposta. 

Essa inciativa está em linha com o recomendado na Cartilha de Comunicação de Moda Sustentável do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Carta da Moda da ONU, lançada em junho passado:

Este é um momento de mudança. 

Os padrões insustentáveis de consumo e produção do setor da moda estão a contribuir directa e significativamente para a tripla crise planetária das alterações climáticas, da perda de natureza e da biodiversidade, e da poluição e dos resíduos, ao mesmo tempo que exacerbam a questão interligada da injustiça social. 

Mas a comunicação de moda pode utilizar o seu alcance cultural, o seu poder de persuasão e o seu papel educativo para aumentar a consciencialização e impulsionar uma mudança no sentido de uma indústria mais sustentável e equitativa.

Depois de todos esses anos trabalhando e vivenciando essas questões na indústria da moda, não posso deixar de achar oportuno e urgente os objetivos dessa campanha. 

O consumo excessivo de bens materiais tem como subproduto o desperdício, a destruição do meio ambiente e problemas sociais de exploração da mão de obra, como amplamente discutido na indústria da moda nos dias de hoje. 

Vejo isso no meu dia a dia no trabalho na indústria da moda, como retrato no meu livro “Amanda Brandt uma garota nos bastidores da moda”, conto nos posts  Moda sustentável: engrenagem do fast fashion,  Slow fashion, upcycling e o futuro da moda,  A moda do futuro e a economia compartilhada,  Sustentabilidade & circularidade criativa: uma tendência na moda?  e abordo em nossos cursos de moda.

Esse é um assunto caro para nós, aqui no Blomme; acreditamos em cultivar mudanças.  

Não podemos nos esquecer que muitas vezes a sociedade e a mídia associam o sucesso e a felicidade ao consumo excessivo e à acumulação de bens materiais.

No entanto, cada vez mais pessoas estão percebendo os efeitos negativos desse estilo de vida, tanto para o meio ambiente quanto para sua própria saúde e bem-estar. 

A busca desenfreada por bens materiais só está deixando o planeta doente e a gente cada vez mais estressado e ansioso.

Para romper com essa lógica e mentalidade, nada como nos conectarmos com valores que transcendem o materialismo e o consumismo e o que realmente importa, dando mais valor às coisas simples da vida como um abraço apertado, uma conversa boa, um dia na natureza…enfim, ser mais hygge, um modo de vida que pude vivenciar quando morei em Copenhague.

Por tudo isso, considero a campanha “Girls Just Wanna Grow Plants” surge um sopro de ar fresco, ao desafiar essa narrativa do consumo desenfreado, celebrar a simplicidade e a beleza da natureza e incentivar as mulheres a encontrarem alegria e realização em atividades mais significativas e sustentáveis, como o cultivo de plantas e o contato com o mundo natural. 

Enfrentando o greenwashing

Uma prática comum em que as empresas fazem alegações sobre seus produtos ou suas ações ambientais falsas ou exageradas, o greenwashing está cada vez mais sendo questionada pela sociedade e sob mira das pessoas.  

Na moda, conheço marcas que estão verdadeiramente comprometidas com a sustentabilidade, enquanto outras nem tanto, estão usando-a apenas como estratégia de marketing, sem realmente abraçar esses valores.

Com consumidores cada vez mais informados e críticos, as marcas agora enfrentam consequências significativas por tentarem se autopromover como “ecológicas” sem respaldo real. 

A campanha “Girls Just Wanna Grow Plants” se destaca como um exemplo de transparência e compromisso genuíno com a sustentabilidade, oferecendo uma abordagem honesta e acessível para promover estilos de vida mais verdes. 

Desta forma, essa campanha se une a outras organizações que combatem o greenwashing como ONGs, que monitoram e denunciam práticas enganosas das empresas, e órgãos reguladores, que estão implementando políticas mais rigorosas para garantir a veracidade das alegações ambientais feitas pelas marcas.

Aqui no Blomme, nós também abordamos essa questão no nosso post Greenwashing e a armadilha da moda “sustentável” e no nosso curso “Sustentabilidade e Circularidade Criativa na Moda”.  


Publicidade Consciente: cultivando um futuro sustentável

A indústria da publicidade, detentora de um poder de influência inegável, encontra-se em uma encruzilhada. 

De um lado, a perpetuação da lógica do consumo desenfreado, com seus impactos negativos no meio ambiente e na sociedade. Do outro, a oportunidade de se reinventar como agente de transformação, promovendo estilos de vida mais conscientes e ecológicos.

Na indústria da moda, muitas vezes, a publicidade exerce um papel importante na perpetuação do consumo, impulsionando a busca por tendências efêmeras e descartáveis. 

Essa lógica, além de gerar impactos negativos no meio ambiente e na sociedade, pode contribuir para a exaustão do consumidor e para a construção de uma identidade baseada na posse de bens materiais.

Campanhas como “Girls Just Wanna Grow Plants” surgem como exemplos inspiradores dessa nova publicidade. 

Ao celebrar a simplicidade e a beleza da natureza, desafia a narrativa dominante do consumismo desenfreado, convidando-nos a reavaliar nossas prioridades. 

De fato, pessoas que valorizam a qualidade, a durabilidade e a produção responsável podem ser um poderoso catalisador para a construção de uma indústria da moda mais justa, responsável e em harmonia com a natureza.

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