Nesse ano, o Fashion Film Festival de Milão, criado e dirigido por Constanza Etro em colaboração com a Camera Nazionale della Moda Italiana, foi realizado inteiramente em meio digital, inclusive a cerimônia de premiação, e ocorreu em paralelo com a Semana de Moda Masculina.
Nessa 7ª edição do festival, duas produções chamaram a atenção do público e do júri: o curta-metragem Fur, o mais votado pelo público (People’s Choice Award), e o filme Le Mythe Dior, o escolhido do júri na categoria de melhor filme de moda (Best Fashion Film).
Saiba mais sobre os vendedores do festival.
Fur, o favorito do público
Essa curta produção da diretora russa Masha Butorina nos incita a refletir sobre o impacto da indústria da moda sobre a natureza, o consumo excessivo e a dominância dos valores materiais.
A protagonista, um personagem mítico, veste um casaco luxuoso de pele de lobo, como se fosse a própria pele. Misturando traços humanos e animais, solitária em meio à natureza, parece não se dar conta de quem ela é para além de suas percepções sensoriais, nem do mundo que a cerca.
Uma bela metáfora!
Essa curta produção nos faz refletir sobre nossas escolhas: “perseguindo a beleza externa e sendo indiferentes a este mundo e às criaturas que o habitam, perdemos nossa humanidade, gradualmente desaparecendo no fluxo da existência mundana e comum”.
Uma reflexão belíssima e oportuna sobre o consumo de moda, os problemas ambientais que estamos enfrentando hoje em dia e o sentido de uma existência que não reconhece o outro.
Uma curta metragem, de apenas 1:30 segundos, mas com uma estética instigante e que dá o que pensar.
Confira aqui: Fur by Masha Butorina 2021 | Fashion Film Festival Milano
Le Myhte Dior, o grande vencedor da noite
Esse filme, dirigido pelo italiano Matteo Garrone, homenageou a maison francesa, resgatando um projeto da Dior, que ficou conhecido como o Théâtre de la Mode, uma exposição itinerante com modelos em miniatura que viajou por Paris, Londres e Estados Unidos no pós-guerra de 1945, com o objetivo de divulgar a marca.
O filme resgatou essa iniciativa histórica de forma criativa.
O roteiro reproduz o atelier de alta costura da marca, na Avenida Montaigne 30 em Paris, onde atarefadas costureiras trabalham na construção de vestidos deslumbrantes, em miniaturas.
Uma explícita referência e homenagem ao mencionado projeto Théâtre de la Mode.
Dali, essas belíssimas peças são transportadas num baú, que reproduz o prédio da Maison, carregadas por dois mensageiros num percurso em meio a um mundo mítico, povoado de sereias, fadas, ninfas e outros seres mitológicos e imaginários.
Os mensageiros abrem essa caixa várias vezes ao longo do longo do caminho, mostrando os belíssimos vestidos em tecidos fluídos, com nervuras, aplicações de bordados, seda plissada e cordas, em cortes e caimentos impecáveis, para encanto desses seres misteriosos.
O cenário é deslumbrante e o fundo musical é de uma beleza quase hipnótica, compondo um filme que é puro encantamento para quem gosta de moda e arte.
Ao nos transportar para uma outra dimensão e outros tempos, Le Mythe Dior fornece uma certa dose de escapismo, um breve momento de descanso para a alma em tempos de pandemia.
Para Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da marca, que recebeu o prêmio de melhor filme junto com o diretor Matteo Garone, as imagens surrealistas tornam visível o invisível, e o mistério e a magia são uma maneira de afastar as incertezas sobre o futuro.
A premiação dessas duas produções chama atenção para dimensões do mundo fashion e a necessidade de um denominador comum: a moda, enquanto beleza, sonho e arte, num mundo nunca indiferentes aos seres e criaturas que o habitam.
Fica como sugestão o belo manifesto do Festival.
Fashion Film Festival Milano 2021 | Camera Nazionale della Moda Italiana (cameramoda.it)
Seus comentários me fizeram fIcar com vontade de assistir aos filmes!
Sim! Os filmes são realmente imperdíveis!