Entenda tudo sobre a evolução do estilo de rua. Ouça aqui:
Para muitos, no início da década de 70, quando o fotógrafo americano Bill Cunningham, que trabalhava para o New York Times, começou a publicar fotografias espontâneas de pessoas nas ruas de New York, surgia o street style.
Um verdadeiro cronista visual, as fotografias de Cunningham retratavam as pessoas com estilo peculiar de vestir e, logo, ganharam reconhecimento do mundo fashion.
Para outros, o street style só surgiu por influência do hip-hop, nos guetos de Nova York, no Bronx e Queens, e ganhou força com o rap, influenciando o resto do mundo.
Há também quem fale que o street style teve origem muito antes.
Apontam o período da Segunda Guerra Mundial, quando o racionamento e dificuldade de obter matérias-primas afetaram, profundamente, o mundo da moda.
A guerra e os tempos difíceis fizeram com que as pessoas lançassem mão de materiais não usuais, aqueles disponíveis!
Roupas utilitárias conquistaram o guarda-roupa feminino, assim como o reaproveitamento ou upcycling!
Nesse momento, ganharam espaço os brechós, mudando a percepção das pessoas em relação às peças de segunda-mão.
E tudo isso era visto nas ruas nos idos dos anos 1940, um novo estilo de vestir!
Na verdade, os estilos de rua se fazem presente, em diversos momentos, na história da moda, inspirando a criação das peças de vestuário!
Portanto, talvez não seja possível definir, com precisão, a origem do street style.
Mas, não resta dúvida, o estilo das ruas mostrado nas fotografias de Cunnigham foi algo inédito e impactou o mainstream!
Lá pela metade dos anos 2000, foi a vez de Scott Schuman surpreender o mundo fashion.
Ele criou o blog de The Sartorialist, publicando fotografias tiradas com sua câmera digital de pessoas nas ruas de Nova York.
E sua ideia ganhou o mundo!
Assim, se Cunningham é considerado, por muitos, o pai do street style, Schuman foi o pioneiro na publicação de fotografias de moda no formato de blog, e muitos o seguiram!
Pipocaram na internet fotos de pessoas estilosas pelas ruas das maiores cidades do mundo.
Um fenômeno que transformou a moda!
Se antes do mundo digital, quando não conhecíamos a internet, as semanas de moda dominavam, com os looks exibidos nas passarelas e mostrados nas revistas algum tempo depois, com a internet tudo passou a acontecer num instante!
E surpreendam-se, as passarelas dividiram a atenção com o lado de fora, com os blogs de moda e os fotógrafos capturando tudo que acontecia, por todos os cantos, muito além dos desfiles!
Algo ainda mais excitante do que se via lá dentro.
Um espaço para a individualidade e a liberdade.
As imagens do The Sartorialist e de outros blogs de moda buscam, na inspiração das ruas, a visão subjetiva, a expressão do individualismo no vestuário, a marca pessoal no estilo de cada um.
Deste modo, o street style, ao representar a personalidade e o estilo individual, único, não está restrito ao código de um grupo, de uma determinada cultura, embora possa contê-lo, de modo subjetivo.
Ele se diferencia do streetwear das tribos, como punk rock, hip hop, hipsters, dentre outros, uma vez que estes movimentos expressam a identidade do grupo, com os códigos de vestuário próprios.
Desde a origem, o street style nasce plural, diverso, multicultural, sem fronteiras e regras, original, como o estilo de cada um que ousa se vestir como quer.
Na verdade, o street style não tem limites; é como uma lufada de ar fresco na moda!
Com isso, ganharam espaço as próprias editoras de moda, como Anna Dello Russo, fotografadas, da cabeça aos pés, pareciam saídas da passarela.
Mas foi só lá pelos anos 2010 que se deu a democratização do street style, com o Instagram!
As pessoas passaram a dividir seus próprios momentos fashion, sem, necessariamente, terem que ser capturadas por grandes fotógrafos.
E, surpreendam-se, muitos fashionistas, mesmo estilistas, começaram a se inspirar nas imagens publicadas nos blogs, como Garance Doré e Stockholm Street Style.
Os bloggers viraram influenciadores de Instagram e dividiram o espaço com as editoras de moda.
Tratou-se de uma verdadeira revolução da indústria fashion!
As marcas, por outro lado, viram uma grande oportunidade de business e começaram a investir nos influenciadores, obtendo resultados mais que animadores.
Perceberam que o engajamento das pessoas com os conteúdos postados por influencers é três vezes maior do que aquele obtido pelos conteúdos publicados pelas próprias marcas.
E não é incrível?
As mudanças não pararam por aí!
Se, por um lado, o social media virou um grande business, com influenciadores vestindo marcas de luxo, por outro, as pessoas se tornaram ávidas por conteúdo mais genuínos.
Com isso, conquistaram espaço nomes menores e mais relevantes para um determinado nicho, os influenciadores genuínos.
O mundo mudou e a moda também!
Pode-se dizer que, se antes falávamos de seguir tendências, hoje falamos de interpretar as tendências de modo singular, se antes falávamos de mega influenciadores, hoje falamos de genuinidade na criação de conteúdos.
Hoje, cansados de conteúdos superficiais, as pessoas buscam, cada vez mais, algo que faça sentido, seja no conteúdo online consumido (que merece o like!), seja na forma como se vestem.
E, sem dúvida, a pandemia veio para mudar o nosso conceito de street style.
Assistimos a ascensão de uma moda consciente e inclusiva, com sustentabilidade e circularidade criativa, que valoriza as realidades locais, os estilistas emergentes, enfim uma moda afetiva.
Então, mais que nunca, cabe a pergunta: qual será o futuro do street style?