Você conhece uma das mais famosas atrizes de todos os tempos?
Quando li que teria uma exposição sobre a vida de Sarah Bernhardt (1844-1923) em Paris, onde dou aulas de moda, pensei: “essa sim deve ser uma exposição e tanto”.
Confesso que entre uma aula e outra ainda não tive tempo de ir à exposição, mas irei, é claro.
Bernhardt foi, sem dúvida, uma mulher à frente do seu tempo.
Com quase 60 anos de carreira, ela foi atriz, produtora, diretora, figurinista, pintora, escultora, empresária, ativista feminina e, ainda por cima, tinha um instinto impecável para moda.
Uma talentosa artista e, há quem diga, uma influenciadora, pois ela entendeu muito cedo a importância de promover e divulgar sua imagem e passar uma mensagem, criando tendências.
Tornou-se uma celebridade e uma referência no mundo da moda na época.
Sarah Bernhardt teve uma vida longa, intensa e rica.
Como não resisto a uma boa história, vamos aos fatos!
Sarah Bernhardt e as roupas que transmitem uma mensagem!
Branco foi a cor que Sarah Bernhardt escolheu como sua assinatura, dentro e fora dos palcos, embora, é claro, usasse outras cores.
Mais magra que as atrizes famosas na época, além de atuar em muitos papéis femininos, Bernhardt não recusava nem aqueles masculinos e triunfou atuando em Hamlet, no papel do protagonista, adotando também o vestuário masculino.
Segundo a atriz, as possibilidades eram muito mais promissoras para os papéis masculinos. E por que ela deveria renunciá-las?
Não por ser mulher, é claro!
Ela tinha um gosto pelo exótico e, até mesmo, em alguns momentos, pelo bizarro no vestuário como, por exemplo, mostra uma de suas fotos famosas com o chapéu feito com um morcego empalhado e, noutra, cochilando em um caixão branco forrado de cetim!
Tempos depois ela disse que usou o caixão como um “túmulo para cartas de amor”.
E isso tudo numa era pré-Schiaparelli, é claro.
O maximalismo de Sarah Bernhardt!
Os figurinos maximalistas e a decoração de Bernhardt criaram tendências e ganharam vida própria.
Tudo o que ela usava no palco definia uma nova tendência de moda, e não só!
Contam que no Ritz em Paris, uma sobremesa de morangos e creme também recebeu o nome da atriz.
Para sua primeira turnê pelos EUA, seus trajes eram tantos e tão suntuosos que funcionários da alfândega dos EUA pensaram que ela estivesse levando bens de luxo para vender no país.
Segundo Mark Twain: “Existem cinco tipos de atrizes: más atrizes, atrizes justas, boas atrizes, grandes atrizes e Sarah Bernhardt”.
E não é que ele tem razão…
Cerca de um século antes da provocação de Linda Evangelista sobre não sair da cama por menos de US$10.000, Bernhardt foi a primeira a cobrar pelas sessões de fotos um cache significativo a época, mais de US$50.000 nos dias de hoje.
Além dos habituais cartões postais e cartazes, ela emprestou seu nome a uma variedade sem precedentes de artigos: leques de penas, espartilhos, botas e muito mais.
Oitenta anos antes de Elizabeth Taylor se tornar Cleópatra na tela, Bernhardt interpretou esse papel, usando joias e figurinos que hoje pertencem a colecionadores particulares.
Uma mulher à frente do seu tempo!
Sarah Bernhardt não se preocupou em atender às expectativas que cercavam as mulheres da época, ao contrário, ela queria fazer algo diferente.
A princípio a sua mãe se opôs à escolha de Bernhardt pela carreira artística, mas ela se matriculou no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris e, assim, aos 25 anos, começou a sua carreira de enorme sucesso como atriz.
Fez inúmeras turnês pelo mundo afora, veio inclusive ao Brasil, e contam que era comum ela se deparar com aglomerado de fãs, esperando-a quando chegava e por onde passava.
Ela abraçou a nova tecnologia da época como o fonógrafo de Edison e o nascente negócio do cinema.
Nos EUA, o sucesso de seu filme mudo “The Loves of Queen Elizabeth” em 1912, que contam ser um dos primeiros a ter trilha sonora na história do cinema, foi tal que Adolph Zukor, que o distribuiu, tornou-se um dos co-fundadores da Paramount.
Ela teve um filho, Maurice, com um príncipe belga, mas manteve o nome do pai em segredo, e nunca o nomeou publicamente.
Mais tarde, Maurice comentou que o nome de sua mãe tinha maior influência e regalias do que a linhagem real.
Ela continuou a atuar até sua morte aos 79 anos.
As cenas de seu último filme, “La Voyante”, estavam sendo filmadas em sua casa em Paris, quando ela morreu, e uma multidão acompanhou o funeral.
Um final emocionante, não diria?
Se quiser saber mais sobre a exposição confira aqui: Sarah Bernhardt. Et la femme créa la star.
Imperdível autobiografia da atriz: 
Eu, Sarah Bernhardt.
