Como costumo comentar com frequência aqui no Blomme, iniciei minha carreira na moda na Versace. Para ser sincera, durante meu master, essa não era minha marca favorita. No entanto, ao trabalhar lá, passei a admirar o legado de Gianni Versace e o trabalho de Donatella. Desde então, acompanho de perto a evolução da empresa ao longo dos anos.
Agora, com a venda da marca para a Prada na fase final das negociações, e ainda em contato com ex-colegas da empresa, observo esse movimento com grande entusiasmo.
Essa fusão vai além do resgate de uma marca icônica: ela pode representar o surgimento de um verdadeiro conglomerado italiano de luxo, capaz de rivalizar com os gigantes franceses que há décadas dominam o setor.
Estaríamos diante de uma nova era para a moda italiana?
A Prada está em negociações avançadas para adquirir a Versace da Capri Holdings por aproximadamente 1,5 bilhão de euros. As discussões estão em andamento, muito próximas de um desfecho, que deve ocorrer em breve.
A venda da Versace já dominava as conversas, especialmente após um dos desfiles mais aclamados da recente Semana de Moda de Milão.
Ao final do desfile da coleção outono-inverno 2024/2025 da Prada, realizado na Fondazione Prada, em Milão, Miuccia Prada, codiretora criativa da Prada ao lado de Raf Simons, confirmou que o “dossiê Versace” era um dos temas centrais no mundo da moda, alimentando especulações sobre uma possível aquisição da marca de luxo sob o controle do grupo Capri Holdings (que também é proprietário das marcas Michael Kors e Jimmy Choo).
A compra da Versace pelo grupo de luxo italiano Prada criaria uma empresa com uma base mais ampla e resistente aos ciclos de negócios. No entanto, revitalizar a marca adquirida pode levar anos e impactar os lucros de curto prazo.
A Prada segue em plena expansão, impulsionada por um crescimento orgânico sólido em 2024, mesmo em meio a um cenário de demanda enfraquecida, impulsionada principalmente pelo crescimento de sua marca Miu Miu, popular entre o público jovem.
Enquanto isso, a Versace enfrenta dificuldades financeiras, tornando-se um alvo estratégico para uma aquisição.
Mais do que uma simples aquisição, essa fusão pode marcar o início de algo maior: a consolidação de um verdadeiro conglomerado italiano de luxo, capaz de competir com os gigantes franceses que dominam o setor.
Nos últimos anos, fusões e aquisições têm redesenhado o panorama da moda, com a formação e transformação de grandes conglomerados.
Como conta Milano Finanza, Neil Saunders, diretor da divisão de varejo da Globaldata nos EUA, observa que a “Versace é uma marca icônica, mas com potencial de crescimento significativo”.
Para explorar esse potencial, Bryce Quillin, economista e cofundador da agência de estratégia de luxo It’s a Working Title LLC, destaca a necessidade de equilibrar o valor de longo prazo da marca com a eficiência operacional imediata.
A potencial compra da Versace representa uma oportunidade estratégica para a Prada ampliar sua presença no mercado de luxo, embora o sucesso dependa de investimentos significativos necessários para revitalizar a marca.
Versace e o retorno ao glamour!
A Versace, icônica por seus designs audaciosos e sua clientela de elite, enfrenta o desafio de reafirmar sua influência. Especialistas como Bryce Quillin defendem um reposicionamento da marca, com foco na alta-costura e um distanciamento da percepção de luxo massificado.
Manter a estética ousada e glamourosa é essencial, destacando a exclusividade e criando conexões profundas com os consumidores por meio de narrativas envolventes e experiências imersivas, como vimos a Jacquemus executar com maestria.
No entanto, a Versace não deve se limitar ao óbvio. A sofisticação do trabalho artesanal e a narrativa do produto, enraizados na identidade da Versace, devem ser o alicerce de sua nova fase.
Referências à mitologia grega, como a icônica Medusa, estampas barrocas opulentas, padrões geométricos inspirados na Grécia Antiga e uma paleta vibrante que exala ousadia são elementos distintivos da marca. Cada peça deve contar uma história, conectando-se emocionalmente com o consumidor e reafirmando o legado de luxo e exuberância da Versace.
Versace e a expansão global: um imperativo estratégico!
Acreditamos que a Versace, em sua jornada de crescimento, deve priorizar a expansão internacional com estratégias meticulosamente adaptadas a cada mercado.
Na Ásia, a presença digital é mandatória, com engajamento nas plataformas WeChat e Xiaohongshu. No Oriente Médio, a marca deve oferecer serviços VIP e coleções exclusivas, atendendo aos anseios de um mercado exigente. Na Índia, o artesanato e a atemporalidade serão os pilares da conquista. A expansão deve ser gradual, com a identidade da marca como bússola.
Nesse contexto, a aquisição pela Prada é bem-vista, pois tende a preservar a identidade italiana da marca.
Ascensão de um conglomerado italiano de luxo!
A Prada demonstrou interesse em expandir sua influência no mercado global de luxo, consolidando seu posicionamento estratégico. Esse movimento ocorre em um momento em que questões de sucessão ganham destaque no setor, como no caso da Armani e da Valentino, marcas icônicas que ainda não definiram totalmente o futuro de seu controle acionário.
Lorenzo Bertelli, filho de Miuccia Prada, herdeiro e diretor da Prada, que se prepara para assumir o comando da empresa, afirmou que a empresa está aberta a considerar oportunidades de aquisição no setor que fortaleçam sua posição no mercado.
No ano passado, Giorgio Armani afirmou à Bloomberg News que não descartaria a possibilidade de fusões ou oferta pública (IPO) para a sua empresa, como parte de seu plano de sucessão, alimentando especulações sobre o futuro da indústria da moda de luxo italiana. Atualmente, marcas de destaque como Prada, Ferragamo, Zegna e Dolce & Gabbana permanecem sob controle familiar.
Em abril de 2024, Giorgio Armani, fundador da renomada marca de moda, indicou que não descartaria a possibilidade de fusões ou de uma oferta pública inicial (IPO) para a empresa no futuro, como parte de seu plano de sucessão.
Se fusões e aquisições acontecerem, estaria, de fato, em curso a criação de um grupo italiano capaz de competir com gigantes globais do setor, como LVMH e Kering, representando uma mudança significativa no panorama do luxo italiano.
Aguardemos!