Saiba tudo sobre o estilo de Frida Kahlo e o que a torna tão fascinante aos olhos da moda!
Depois do desfile da Dior em Mumbai, todos estão comentando sobre o último desfile da marca com a coleção Cruise 2024 na Cidade do México.
Fascinada há muito tempo pelo México, que considera um “lugar da alma”, Maria Grazia Chiuri, a diretora criativa da Dior, idealizou o desfile no país.
Na criação da coleção, ela se inspirou na cultura e arte mexicana e, no centro de tudo, em Frida Kahlo (1907-1954).
Chiuri contou com a colaboração de ateliês e artesãos locais para dar vida à coleção, que incorporou motivos reconhecíveis das pinturas de Frida Kahlo, como borboletas e pássaros, e referências ao seu guarda-roupa.
Como local do desfile, a Dior escolheu o Colégio de San Ildefonso, um tanto simbólico, já que é nesta antiga escola, construída no século XVI, que Frida Kahlo conheceu Diego Rivera, quando tinha apenas 18 anos, que se tornaria seu companheiro de toda vida.
E foi lá onde nasceu o realismo mexicano.
Chiuri criou silhuetas muito femininas, com as blusas bordadas combinadas com saias rodadas, mas, ao mesmo tempo, também quebrou algumas fronteiras de gênero entre o masculino e o feminino, com trajes andróginos, como ousava Frida, com seu estilo único, exuberante.
É claro que a Dior não foi a primeira e nem será a última Maison, na história da moda, a se encantar pela artista mexicana e o seu guarda-roupa.
Frida Kahlo tão fascinante aos olhos da moda!
As blusas soltas com motivos coloridos, bordadas, inspiradas no hiupil indígena, saias longas e rodadas, maxis xales, cabelos trançados, bandanas florais, sobrancelhas mais que indisciplinadas.
Essas são características que evocam Frida Kahlo, não é?
Mas não só!
É a sinceridade que transparece na sua arte e no seu estilo que nos emociona e arrebata, até mesmo com um certo desconforto.
Como bem resumiu Circe Henestrosa, a curadora da exposição sobre Frida Kahlo no Museu Galliera, que aconteceu de 15 de setembro de 2022 a 05 de março de 2023, em Paris:
A imagem de Frida Kahlo perdura porque ela conseguiu quebrar muitos tabus por meio de seu corpo (…). Era uma pessoa que lidava com questões de deficiência, felicidade, convicções políticas e identidade de gênero.
De fato, Frida desde pequena conviveu com sérios problemas de saúde: aos seis anos de idade, teve poliomielite; aos 18 anos sofreu um acidente que lhe causou muita dor e sofrimento por toda a vida.
Na verdade, Frida queria fazer medicina, mas por conta desse trágico acidente, que lhe fez passar por inúmeras cirurgias e longos períodos na cama, ela começou a pintar.
Contam que seus pais colocaram um espelho no teto de seu quarto, para que ela pudesse se ver, e um cavalete adaptado sobre a cama, para que ela pudesse pintar deitada, e assim Frida fez seu primeiro autorretrato.
Sobre essa época, Frida comentou que pintava as coisas da forma como as via com seus próprios olhos e nada mais.
Nas suas pinturas, Kahlo se retratava de diferentes formas sem medo expor suas dores e vulnerabilidades, como observa a historiadora Hayden Herrera, autora de “Frida — A Biografia”:
Ao pintar a si mesma sangrando, chorando, aberta ao meio, ela transmutou sua dor em arte com extraordinária franqueza, temperada com humor e fantasia.
Embora muitos considerem as pinturas e os autorretratos de inspiração surrealista, Frida negava essa conexão com o surrealismo, dizendo:
Nunca pintei sonhos e sim minha própria realidade.
E acabou por se tornar uma das mais conhecidas pintoras mexicanas, com seus autorretratos intransigentes e brilhantemente coloridos que lidam com temas como identidade, corpo e morte.
Mas, não obstante todo esse sofrimento físico, nada parecia abalar sua paixão pela vida; e como disse certa vez:
Onde não puderes amar, não te demores.
Segundo seus biógrafos, teve vários relacionamentos com homens e mulheres, amou e foi amada intensamente.
Casou-se com muralista Diego Rivera em 1929, divorciou em 1939 e se casou novamente em 1940.
Os lendários looks de Kahlo conquistaram muitos estilistas.
Contam que a opção de Frida por saias longas e rodadas, do estilo tehuana, da região de Oaxaca, no Sul do México, escondia a deformidade das pernas, uma sequela da poliomielite.
E que, após o trágico acidente, que lhe deixou com sérios problemas na coluna, Frida precisou vestir, até o dia de sua morte, corseletes e coletes de gesso que enfeitava com flores, bordados e rendas.
Mas, para além do aspecto estético, é a cultura zapoteca ancestral de sua mãe, de origem indígena e espanhola, que Frida Kahlo homenageou através das suas roupas e, principalmente, a tradição matriarcal dessa cultura, com mulheres fortes e um olhar voltado para a arte.
Além disso, as peças usadas por Kahlo, misturando a moda ocidental com roupas indígenas tradicionais, espelhava seu posicionamento político revolucionário sobre questões como a identidade cultural, nacionalismo e feminismo.
Frida tinha um visual exótico, com flores no cabelo, batom vermelho, brincos grandes, colares coloridos, saias longas e batas floridas, carregados de dramaticidade, coerentes com sua história, valores e estilo de vida.
Sempre homenageando e salientando sua cultura, Kahlo se orgulhava de ser mexicana e, constantemente, infundia uma mensagem feminista nas suas roupas, como durante suas aparições usando terno, apropriado do vestuário masculino.
Contam que a moda fazia parte das pinturas de Kahlo tanto quanto de sua vida cotidiana: ela passava horas em frente ao espelho se vestindo e adorava fazer compras.
De acordo com Hayden Herrera, à medida que a condição de saúde de Frida piorava, os adereços e acessórios por ela usados foram aumentando e ficando cada vez mais elaborados, e o vestir tinha um papel e significado:
Assim como os autorretratos confirmavam sua existência, as roupas faziam com que a mulher frágil, quase sempre presa à cama, se sentisse mais magnética, mais visível e mais enfaticamente presente como objeto físico no espaço. Paradoxalmente, eram uma máscara e uma moldura. Uma vez que definiam a identidade de quem as usava em termos de aparência, as roupas distraiam Frida — e o observador — da dor interior.
Arte e moda sempre estiveram lado a lado na vida e na obra da artista, como se pode perceber nas cores vibrantes e nos acessórios, marcas do estilo de Frida e verdadeiras referências no mundo inteiro.
Frida Kahlo tornou-se um ícone no mundo da moda.
Incontáveis estilistas se inspiraram, ao longo dos anos, na personalidade e estilo de Frida, e dedicaram looks e mais looks à artista e até mesmo coleções inteiras.
Um exemplo é a coleção criada por Jean Paul Gaultier, em 1998, inteiramente inspirada em Frida Kahlo, que exibiu na passarela Naomi Campbell e Linda Evangelista, ambas ostentando uma exuberante monocelha.
Para a coleção, Gaultier criou, entre outros, um icônico look inspirado na pintura de Frida intitulada “A coluna quebrada”, realizada em 1944, retratava a sua deficiência causada pelo acidente.
O fascínio de Gaultier pela artista levou-o glamourizar o espartilho na coleção, inspirado no modelo ortopédico que Frida Kahlo passou a usar após esse trágico acidente.
Uma verdadeira homenagem ao estilo de Frida!
Em 2007, quando Frida completaria cem anos, foi a vez de Roberto Cavali e Gucci homenagearam a pintora em suas coleções.
A Moschino, na coleção na Primavera Verão 2012, revisitou os looks icônicos de Frida com um toque moderno, com vestidos mais curtos e refinados, assim como Alberta Ferretti fez dois anos depois.
Dolce & Gabbana, para a Primavera Verão 2015, trouxe Frida de volta à passarela em uma versão sofisticada e opulenta, que contava, inclusive, com uma coroa.
Foi um desfile tão icônico que a exposição sobre Frida Kahlo, no Museu MUDEC em Milão em 2018, contou com uma galeria dedicada aos looks da passarela inspirados na artista.
O guarda-roupa de Frida!
Quando Frida Kahlo morreu em 1954, Diego Rivera vetou o acesso as roupas e pertences pessoais de Frida, guardando-os a sete chaves na casa deles na Cidade do México, a Casa Azul, como é conhecida, e que acabou se tornando um museu com o nome da pintora.
Cinquenta anos depois, o acesso aos pertences de Frida foi finalmente liberado ao público, revelando um tesouro de diários, cartas e centenas de roupas ainda perfumadas por tinta e cigarros.
As peças do guarda-roupa de Frida passaram a ser expostas no Museu Frida Kahlo.
E, desde então, são exibidas esporadicamente em cidades como Londres e Paris.
E como registra Susana Martinez Vidal no livro “Frida Kahlo: Fashion As the Art of Being”, Frida Kahlo não foi apenas uma artista icônica, mas também uma fashionista ousada cujo estilo único continua a inspirar e influenciar os mundos da moda, mídia e arte hoje.
Segundo essa autora, a moda é um efeito óptico que Kahlo empregou com inteligência perspicaz e intenção artística, e sua estética original e multicultural fez dela o centro das atenções onde quer que fosse.
Este vibrante tributo ao caráter, estilo, arte e moda ousados de Frida Kahlo reflete as formas caleidoscópicas de sua história e personalidade únicas, interpretadas e adaptadas como poucas em nosso tempo.
Ao justapor as roupas de Kahlo com a moda e os estilistas que ela continuou a influenciar por décadas, observa-se que diversos artistas e editores de revistas reproduziram o estilo ousado de Kahlo inúmeras vezes, com suas saias de linho, sobrancelhas grossas e cabelos adornados com flores.
No mundo da moda, ela também influenciou, mais recentemente, Riccardo Tisci para a Givenchy, Dolce & Gabbana e Carolina Herrera, além, é claro, de Maria Grazia Chiuri para Dior.
Uma história e um estilo além do tempo!
Na verdade, inúmeras maisons prestaram homenagem à artista em suas coleções, tornando-a um ícone da moda para além do seu tempo.
Na moda, o ciclo de “apropriação” do estilo de Frida está longe de terminar, como comprova a influência dela sobre estilistas contemporâneos.
De fato, nesse ano, os olhos do mundo da moda se encantaram com a mais recente coleção de Maria Grazia Chiuri, que trouxe para a passarela peças inspiradas naquelas usadas por Frida, incluindo, os ternos com gravatas com as quais ela transgrediu o cânone da feminilidade para reivindicar sua independência intelectual.
Tudo isso nos mostra que, com certeza, Frida Kahlo deixou sua marca não só nas artes plásticas, que a tornaram mundialmente famosa, mas também na moda, com o seu estilo original, autêntico e transgressor, que inspira e, certamente, continuará inspirando os designers e a moda contemporânea.