Dividindo meu tempo entre Roma e Paris, tenho o privilégio de observar a moda sob duas perspectivas distintas e complementares.
Essa experiência rica me permite identificar tendências emergentes e transformá-las em conceitos criativos, tanto para minhas consultorias quanto para as coleções que desenvolvo.
Recentemente, durante um passeio por Roma, fui surpreendida pela vitrine da Fendi, localizada no Largo Carlo Goldoni.
A maison, em comemoração ao seu centenário, apresenta uma decoração que reinventa seus códigos icônicos de maneira sofisticada.
O design, com elementos inspirados no cristal de Murano e nas decorações tradicionais, tem como ponto de partida um esboço de Karl Lagerfeld, criado em 1984. Esse desenho dá forma a uma árvore composta pelas bolsas Peekaboo e Baguette, além de outros produtos, caixas de presente da Fendi e bolas de cristal, dispostos em um equilíbrio aparentemente instável.
Toda a composição é coroada por uma reinterpretação marcante do emblemático logotipo FF da marca.
“Uma sublimação dos códigos da maison por meio do artesanato italiano e de esboços de arquivo”, descreve a própria Fendi ao comentar suas vitrines e a decoração de suas boutiques para a temporada de festas de 2024.
Fendi e o legado de Karl Lagerfeld
Na decoração da boutique de Roma, a referência a um esboço de Lagerfeld reforça a conexão da maison com sua herança, enquanto a reinterpretação dos símbolos natalinos e o uso de materiais vibrantes evidenciam a busca por um espírito jovem e contemporâneo.
Karl Lagerfeld começou a trabalhar na Fendi em 1965 e permaneceu na marca por mais de 50 anos, até seu falecimento em 2019, quando foi sucedido pelo britânico Kim Jones.
Lagerfeld foi contratado inicialmente para modernizar as coleções de peles da grife italiana, que, na época, era mais conhecida por esse segmento. Ele inovou ao transformar as peças de pele em criações mais leves e versáteis, incorporando-as com criatividade em seus designs.
Ao longo de sua parceria com as irmãs Fendi, filhas dos fundadores da grife italiana em 1925, ele desempenhou um papel fundamental na transformação da marca em uma potência do luxo global.
Lagerfeld também criou o icônico logotipo “FF” (Fun Fur) da Fendi, que se tornou um símbolo da marca. Sua longa colaboração é uma das mais duradouras na história da moda, refletindo sua criatividade incansável e seu compromisso com a inovação.
Vivenciar a Fendi em Roma é uma verdadeira aula sobre como a moda pode unir tradição e inovação, criando narrativas que nos conectam ao passado sem perder de vista o futuro.
Para quem, como eu, transita entre a riqueza histórica e as perspectivas inovadoras da moda, essa experiência é simplesmente inspiradora.
Fendi e o centenário da Maison
A casa de moda romana dará início às comemorações de seu centenário com um desfile programado para a próxima Semana de Moda de Milão, que ocorrerá de 25 de fevereiro a 3 de março, conforme divulgado na mídia.
O evento também marcará a reabertura do histórico showroom da marca na Via Solari, em Milão, atualmente em reforma.
Após a saída de Kim Jones, ocorrida no início de outubro passado, a maison ainda não anunciou quem será o sucessor responsável pelas coleções femininas.
Há fortes especulações sobre Pierpaolo Piccioli, um dos estilistas mais renomados da atualidade e também um dos meus favoritos, que teve uma breve passagem pela marca no início da sua carreira. As comemorações ocorrerão em um momento de grandes mudanças para a maison.
A saída de Kim Jones foi anunciada em um comunicado oficial, no qual foi informado que o estilista deixaria o cargo de diretor artístico da Maison para “focar totalmente em seu papel como diretor artístico da moda masculina da Dior”.
Jones, de fato, mantém seu papel na Dior, onde projeta coleções masculinas desde 2018.
O que o futuro reserva
Meus passeios por Roma me levaram a refletir sobre o momento crucial que a Fendi, assim como toda a indústria da moda, está atravessando atualmente.
A saída do estilista britânico Kim Jones da Fendi é mais um sinal da crescente velocidade e imprevisibilidade com que a moda se renova.
A efemeridade das coleções desafia os modelos tradicionais de negócios e abre espaço para marcas como a Jacquemus, que exploram estratégias inovadoras para se conectar com o consumidor.
Enquanto designers como Karl Lagerfeld deixaram um legado duradouro em maisons como a Fendi, a rápida ascensão e queda de outros talentos, como Kim Jones, levantam questionamentos sobre a sustentabilidade dessa indústria.
Para permanecer relevante, a Fendi precisará equilibrar a preservação de seu legado com a adaptação às novas demandas do mercado, especialmente das exigências das novas gerações.
As próximas temporadas serão decisivas para definir o futuro da maison neste cenário em constante transformação.
