YSL Opium perfume

 Yves Saint Laurent, o hedonismo e o perfume Opium

Na minha última aula em Paris, estávamos discutindo um tema que, à primeira vista, pode parecer pouco interessante, mas é, na verdade, extremamente cativante: a metodologia de pesquisa.

Sim, sou professora de moda com experiência no desenvolvimento de produtos, mas também ensino outras matérias.

Nas aulas de metodologia de pesquisa na moda os temas são os mais diversos e interessantes, e as discussões com meus alunos um estímulo!  

Uma das minhas turmas está estudando business com ênfase em perfumes e cosméticos, e estamos trabalhando juntos em uma pesquisa desafiadora.

Na verdade, estamos tentando estabelecer conexões e responder a algumas perguntas. 

Aqui, entra em cena a professora de metodologia de pesquisa que há em mim.

Queremos compreender como Yves Saint Laurent, inspirado pelo movimento hedonista e decadente dos anos 1970 e 80, lançou o perfume Opium e, com isso, conseguiu transmitir uma mensagem de empoderamento das mulheres naquela época.

Como um perfume pode transmitir uma mensagem tão transformadora?

Posto o desafio, foram momentos que eu e meus alunos mergulhamos na história da moda. 

Aqui estão as nossas reflexões sobre o tema.

A moda visionária de Yves Saint Laurent

Nos anos 1970 e 1980, o mundo da moda passava por uma transformação radical.

Estilista talentoso, Yves Saint Laurent emergiu como uma figura influente capaz de capturar o espírito hedonista e decadente da época.

O estilo hedonista das criações de Yves Saint Laurent era caracterizado por uma mistura de sensualidade, elegância e conforto com  influências culturais e artísticas, que ajudaram a definir a moda do século XX.

Em suas coleções, ele frequentemente incorporava elementos de arte e arquitetura como na sua coleção “Mondrian” de 1965, inspirada nas obras do famoso pintor holandês.

Mais do que apenas um nome na indústria da moda, Saint Laurent era um visionário; por meio de suas criações, ele transmitia mensagens de empoderamento das mulheres e desafiava as normas convencionais.

Você sabia que foi ele quem se apropriou de peças do guarda-roupa masculino como o trench coat, smoking, peacoat e botas de cano alto e as propôs para as mulheres, dando-lhes liberdade e poder?

Mas o que poucos sabem é que um dos seus mais notáveis legado foi  o polêmico perfume Opium, que não apenas capturou o espírito da década, mas também promoveu a autoexpressão e a liberdade feminina.

O movimento hedonista na moda

Os anos 1970 e 1980 foram marcados pelo hedonismo e decadência, em contraste com os valores mais conservadores das décadas anteriores.

O estilo hedonista na moda buscava o conforto e o prazer sensorial, com uma certa indulgência, que na alta costura se expressam por meio de roupas luxuosas e bem elaboradas.

Yves Saint Laurent era uma figura que personificava esse espírito, desafiando as normas e o establishment na moda.

Assim, a moda extravagante e ousada criada por ele, marcada por cortes arrojados e tecidos prestigiosos, era um reflexo da exuberância da época.

Em 1966, Saint Laurent lançou o terno Le Smoking feminino, que logo se tornou um símbolo de elegância, sofisticação e igualdade entre os sexos, apreciado pelas mulheres.

Esse marco revolucionário desafiou as expectativas de gênero na moda, abrindo, inclusive, caminho para a androginia na moda, presente em muito desfiles nas últimas temporadas.

E que também nos rendeu reflexões interessantes aqui no blog. 

O perfume Opium e o empoderamento das mulheres

Em 1977, Yves Saint Laurent lançou uma nova fragrância para coincidir com a sua coleção outono-inverno  inspirada na China. 

O perfume era uma mistura incomum, surpreendente, que Saint Laurent supervisionou pessoalmente todo o processo criativo, desde a escolha dos aromas até o formato do frasco, o kit de divulgação para a imprensa (que ele mesmo criou) e a campanha publicitária com Jerry Hall fotografado por Helmut Newton.

Na verdade, a ligação com o Oriente não era novidade na perfumaria e na moda. 

Em 1913, Paul Poiret havia lançado o Nuit de Chine da Parfums de Rosine em um frasco cor de jade que lembrava uma embalagem de tabaco chinês.

Porém, o nome escolhido por Saint Laurent, Opium, uma referência explícita à droga oriunda do Oriente, causou escândalo, principalmente nos Estados Unidos.

E ainda assim o perfume foi um sucesso surpreendente. As lojas não conseguiram mantê-lo em suas prateleiras. Só num ano, as vendas na Europa atingiram 30 milhões de dólares. 

Trinta anos depois, as vendas não diminuíram, e o Opium continuava a ser um dos dez perfumes mais vendidos na França junto com Chanel Nº5.

Yves Saint Laurent queria que o Opium fosse uma fragrância cativante e que o seu perfume evocasse o Oriente sofisticado, a China imperial e o exotismo, que ele tanto gostava.

De fato, o nome do Opium por si só evoca um senso de luxúria e decadência, não?

Os mentores deste perfume sensual foram os perfumistas Jean-Louis Sieuzac e Raymond Chaillan. 

Eles queriam um perfume que fosse, ao mesmo tempo, atraente e refinado. Assim, misturaram cuidadosamente os ingredientes, permitindo-lhes amadurecer com o tempo, resultando numa fragrância que é uma verdadeira obra-prima. 

A fragrância, habilmente elaborada, mistura notas exóticas e picantes, um caráter opulento, imediatamente aparente notas de tangerina e bergamota, aprofundadas pela mirra, jasmim e cravo e, na nota final baunilha, patchouli e opoponax.

Vale lembrar que as notas olfativas são divididas em três categorias: as notas de topo, de entrada ou cabeça, as mais leves e voláteis, que são sentidas logo no início, quando o perfume é borrifado; as notas de corpo ou do meio ou coração, mais persistentes, sentidas na evolução do perfume, que lhe dão “personalidade”; e as notas de fundo ou base, de maior duração, que ficam até o fim da fragrância.

A imprensa global criticou fortemente Yves Saint Laurent, mas o escândalo apenas serviu para alimentar o desejo pelo perfume; testadores foram roubados, pôsteres foram rasgados e os estoques do perfume nas lojas se esgotaram rapidamente após o lançamento! 

A campanha publicitária provocante do Opium apresentava a modelo Jerry Hall em poses sensuais, desafiando as tradicionais de publicidade de perfumes.

E com o Opium, a marca YSL nunca deixou de se reinventar e de chocar.

Décadas mais tarde, em 2000, Sophie Dahl foi o rosto de uma campanha publicitária, posando nua no meio do êxtase induzido pelo Opium; uma campanha que não durou mais de cinco dias devido ao afluxo de reclamações públicas. 

O perfume Opium e o legado de Yves Saint Laurent na Moda

Nas nossas discussões em sala de aula ficou claro para meus alunos que Yves Saint Laurent não foi apenas um dos designers mais influentes do século XX, mas também um defensor do empoderamento feminino e da liberdade de expressão.

A moda por ele criada refletia o espírito hedonista e decadente dos anos 1970 e 1980, e suas criações, como o terno Le Smoking feminino, desafiaram as convenções de gênero e, para muito além da sensualidade ousada, deram verdadeiro poder às mulheres.

Assim como o próprio perfume Opium, com seu nome provocante e campanha ousada, encorajou as mulheres a abraçar sua sensualidade e autoexpressão.

Em 2009, a casa descontinuou o Opium e reintroduziu uma nova versão. 

Isso porque a  fórmula original do Opium continha tantos ingredientes considerados alergênicos que tentar salvá-lo era uma batalha perdida.

O perfumista Antoine Maisondieuse deparou com a formidável tarefa de reviver o Opium.

Mas o fato é que com metade de sua fórmula faltando na paleta do perfumista moderno, recriar o toque picante e a sensação ardente do oriental clássico é quase impossível, para tristeza das incontáveis fãs apaixonadas pela fragrância.

Maisondieu abordou o Opium não pela rota das especiarias, mas pela estrada do incenso. Ele recompôs a fragrância com base na interação esfumaçada de opoponax, mirra e resinas doces.

Apreciando ou não essa nova fragrância, o que vale é que Yves Saint Laurent deixou um legado duradouro não apenas na moda, mas também na luta pelo empoderamento das mulheres e na celebração da individualidade. 

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