Valentino, nudez e a moda

Paris, Valentino e a nudez!

Aqueles que acompanham Blomme há algum tempo sabem que não abordamos apenas desfiles e tendências; propomos mostrar como a moda os transcende e muitas vezes aborda “discursos sérios”. 

Como mencionei aqui anteriormente, moro em uma cidadezinha próxima a Roma, a poucos passos do mar, e tenho um vizinho famoso (compartilhamos a mesma praia no verão), Pierpaolo Piccioli, o diretor criativo da Valentino

Ele na sua praia particular e eu do lado de lá, na praia pública, como chamamos na Itália.

Sempre admirei o trabalho dele e o de Maria Grazia Chiuri desde os tempos da criação da linha Rockstud. 

Também mencionei que dou aulas no Instituto Marangoni em Paris e, em uma das muitas reuniões, antes do início do período, discutimos o tema do projeto final. 

Uma professora propôs: o corpo! 

Afinal, falar de moda sem abordar o corpo humano é impossível, e os estudantes no início do curso muitas vezes se esquecem disso. 

Que coincidência quando vi o desfile de Piccioli. 

A coleção SS24 da Valentino!

“O corpo merece respeito, e não é verdade que a moda seja a negação da nudez”, como disse Pierpaolo.  

Na coleção de primavera/verão 2024, ele dá vida à L’École, que é, na verdade, uma expressão de liberdade do corpo. 

Para Valentino, a escola é o lugar onde nasce uma nova cultura, molda uma sensibilidade diferente, que pode conectar a moda e o corpo sem preconceitos em um conjunto de roupas que forma, como afirmou Piccioli, “a exaltação do corpo feminino em uma visão independente do olhar masculino”.

A escola a que o diretor criativo da Valentino se refere é a École des Beaux Arts na rue Bonaparte em Paris e, dado o foco nas disciplinas ali ensinadas, não há nada mais adequado para investigar o poder do corpo que, traduzido em roupas, torna-se o poder do nu.

“É a coleção mais ousada que já fiz. Queria uma relação muito próxima entre vestimenta e corpo para obter uma imagem livre e não convencional”, diz Piccioli. 

Esta coleção é dedicada apenas às mulheres, não há espaço para homens compartilharem essa visão. Por quê? 

“Achei assustadora a maneira como os políticos que governam a Itália sugeriram que as mulheres tivessem cuidado com a forma como se vestem para evitar transtornos. Quem pode decidir qual é a forma adequada de se vestir? E, como sempre faço, protesto por meio do que faço, não do que digo”, explicou Pierpaolo. 

De fato, nessa coleção Piccioli reitera algo que muitas vezes é esquecido: a moda é uma expressão de criatividade que se apoia em um corpo, seja ele feminino ou masculino, e é condicionada por ele. 

A anatomia não é passível de interpretação, ela está lá, de fato, e esse corpo merece respeito.

Como interpreta Pierpaolo: “a nudez é entendida como um estado natural, não como provocação ou sedução. Serviu-me para desafiar clichês de glamour, onde a própria pele se torna um tecido”. 

Portanto, o nu, que a História da Arte certifica como essencial, para Piccioli serve para dar à Valentino uma conotação de natural.

Esse mesmo nu, enaltecido em pinturas, estátuas e fantasias, no vestir é o mesmo que criou escândalos, condenações criminais e reprovação social em tempos não muito distantes.

Uma faca de dois gumes: em séculos passados, era concedida voluntariamente a atletas nus reconhecimento, mas não às mulheres, cujos corpos eram velados, escondidos, punidos e violados.

Piccioli utiliza a técnica de alto-relevo e faz da renda o próprio vestido, e assim o corpo passa a fazer parte do tecido. 

As roupas magicamente se tornam tridimensionais e parecem esculpir o corpo, transformando um vestido curto de renda branca em algo que se assemelha a gesso.

Há uma expressão de poder em mostrar um corpo nu. 

De fato, uma renda que segue padrões de romãs e dragões sublinha um corpo nu que não é imaginado como uma expressão sexual ou sedutora, mas sim como uma demonstração de imensa criatividade. 

Mesmo quando um terno é combinado com uma jaqueta e uma saia longa e recobre a nudez, ele consegue produzir a surpresa: o andrógino.

Valentino se vale dessa nudez para construir peças que exibem uma impressionante habilidade manual. 

Pense em quanto a indústria da moda deve ter evoluído para criar essas roupas que realizam “a troca essencial entre o vestido e a mulher que o usa”, como diz Piccioli. 

É claro que Valentino só conseguiu unir a mulher e a roupa porque Piccioli eliminou dentro de si todos os preconceitos, que frequentemente acompanham o pensamento convencional.

A nudez vai além do desfile da Valentino! 

Esse tema do corpo e da nudez na moda permite muitas abordagens e transcende às das minhas aulas em Paris e às do próprio desfile da Valentino. 

É uma discussão que, de fato, ultrapassa preconceitos e barreiras, contando uma história de liberdade, aceitação e transcendendo o gênero. 

Afinal, falar de moda sem falar do corpo humano é impossível, e a nudez não é a negação da moda, mas uma das muitas possibilidades que ela nos oferece.

Mais uma vez, o diretor criativo da Valentino surpreende com sua visão tão coerente e libertária da moda.

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