Estudiosos da moda abordam a ideia de que ela é uma constante mudança, funcionando como um sistema de signos em permanente renovação para manter sua relevância, o que evidencia sua natureza cíclica e adaptável.
Ao acompanhar as Semanas de Moda por conta do trabalho, observo essa dinâmica, na prática.
Em 2025, a moda passa por uma transformação: nos desfiles, o minimalismo funcional e a autenticidade coexistem com um escapismo maximalista.
Esse contraste reflete as diferentes respostas da moda às demandas contemporâneas: de um lado, a busca por simplicidade e propósito; de outro, a necessidade de sonhar e se deslumbrar.
Nas passarelas, essas diferentes narrativas se encontram, convidando-nos a explorar a própria identidade e celebrar a diversidade de estilos.
Vamos a elas!
Os desfiles de alta-costura primavera/verão 2025, especialmente em Paris, sinalizaram um retorno à exuberância. Marcas icônicas como Schiaparelli, Valentino e Dior trouxeram de volta o maximalismo e a teatralidade, oferecendo um refúgio visual em tempos incertos.
Como comentamos no nosso post anterior com a cobertura dos desfiles, a alta-costura, historicamente ligada ao sonho e à fantasia, parece estar retomando seu papel de exuberância em períodos de incerteza.
Enquanto a exuberância retorna aos holofotes, o “quiet luxury”, que foi tendência dominante nas últimas temporadas, continua em cena.
No recente desfile da Gucci, o diretor criativo Sabato De Sarno apresentou uma coleção de primavera/verão 2025 que prioriza a elegância da simplicidade, com peças que destacam a atemporalidade, com qualidade e funcionalidade.
Já a coleção outono/inverno 2025/26 da Prada, apresentada por Miuccia Prada e Raf Simons durante a Semana de Moda de Milão, destacou-se por uma abordagem que mescla elementos do minimalismo e do maximalismo.
A coleção de Miuccia Prada explorou essa dualidade. Enquanto algumas peças remetiam a uma elegância contida, outras incorporavam elementos mais ousados. Essa combinação de estilos sugere uma narrativa que transita entre os dois mundos, oferecendo uma visão multifacetada.
Assim, a moda contemporânea se equilibra entre duas forças: de um lado, a busca pelo bem-estar e pela expressão autêntica, com peças que fazem sentido na realidade; de outro, o fascínio pelo sonho e pelo escapismo, onde nos permitimos imaginar sem limites.
As mudanças na moda não ocorrem isoladamente; elas refletem um cenário mais amplo, onde crises econômicas e transformações sociais impulsionam a indústria a se reinventar constantemente.
A troca de diretores criativos em grandes maisons, em 2025, reforça esse momento de transição e questionamento.
Durante anos, a moda esteve associada a aspirações grandiosas, inspiradas nas passarelas e nos closets das celebridades. Era a era das “it-bags” e “it-shoes”, em que certas peças definiam quem estava “in” ou “out”. Essas tendências, muitas vezes inatingíveis para a maioria, exigiam sacrifícios em termos de conforto e praticidade.
No entanto, essa mentalidade mudou.
Atualmente, a moda contemporânea se define pelo diálogo entre o real e o fantástico, entre o funcional e o maximalista, em sua constante reinvenção.
Assim, o conforto e a qualidade ganharam mais relevância do que a efemeridade das tendências, e grandes marcas estão abraçando esse minimalismo renovado.
Blazers neutros, jeans de corte regular, suéteres de tricô e bolsas sem logotipo tornaram-se a nova essência do estilo, priorizando a atemporalidade e funcionalidade. Mais do que seguir modismos passageiros, a moda agora reflete identidade, sustentabilidade e qualidade.
No entanto, para aqueles que ainda buscam ousadia e alguma forma de evasão, existe um contraponto igualmente forte: o escapismo, expresso por um maximalismo vibrante, no qual cores intensas, volumes exagerados e detalhes exuberantes reafirmam a moda como um território de fantasia e expressão sem limites, como vimos nos desfiles de outras tantas grandes marcas.
A moda de 2025 convida-nos a explorar nossa própria identidade.
No final das contas, o que define se uma peça é “fashion” ou “básica” não é a tendência em si, mas a maneira como ela é incorporada ao dia a dia.
Mas não podemos nos esquecer que a moda está em constante mutação. As tendências de hoje serão as memórias de amanhã, abrindo espaço para novas formas de expressão.
E você, o que acha dessa nova abordagem da moda?