A primeira vez que li sobre hygge foi no livro “O segredo da Dinamarca: como vivem as pessoas mais felizes do mundo”, de Helen Russel, que ganhei de presente de uma amiga, e eu não podia imaginar que um dia ia acabar morando em Copenhagen!
Naquele período muitos livros foram publicados sobre o tema.
Provavelmente porque a Dinamarca chamava atenção!
Vinha sendo considerado o país mais feliz do mundo no ranking da ONU ou estava sempre nos primeiros lugares.
Os artigos sobre a dita felicidade do povo dinamarquês sempre traziam algum comentário sobre o hygge ou ser hyggeligt.
Confesso que não entendia muito bem o que isso significava até viver em Copenhagen.
Hygge não tem uma tradução em português, mas já consta na língua inglesa.
No dicionário de Cambridge, hygge significa uma qualidade de aconchego (sentir-se quente, confortável e seguro) que vem de fazer coisas simples, como acender velas, assar bolos ou passar tempo em casa com sua família (tradução livre).
O dicionário de Oxford apresenta uma definição similar: hygge é a qualidade de estar aquecido e confortável que dá uma sensação de felicidade (…) A experiência de hygge inclui xícaras quentes de vinho quente, lareiras acesas e velas em abundância (tradução livre).
Vivendo na Dinamarca entendi por que é difícil traduzir hygge em palavras, embora seja simples vivenciá-lo.
Mais que um conceito, hygge tem vários sentidos e ideias associadas e refere-se mais ao sentimento despertado dessa forma de vida muito particular no país.
Exemplificando…
Ser hyggeligt é sentir gratidão por saborear uma xícara de café com um bolo quentinho no final de tarde, numa sala confortável, decorada com lembranças acumuladas ao longo de uma vida e iluminada com luz suave de velas que soltam uma aroma delicioso, ao lado de pessoas que você ama e confia, uma conversa alegre e amena, enquanto faz um frio danado do lado de fora… flocos de neve cobrindo o jardim e as árvores ao redor.
Ou ainda, é a alegria ao desfrutar um jantar no quintal com a luz do sol brilhando até tarde na noite de verão, acompanhada de uma bebida gelada e comida preparada em conjunto sobre a mesa, servida em louças antigas, com música ao fundo, conversa amiga e familiares juntos, flores colorindo o jardim e o cachorro dormindo no canto da varanda.
Como traduzir esse encontro de signos, significantes e significados que nos traz felicidade em uma única palavra?
Os dinamarqueses chamam estes momentos de hygge!
Entendi que ser hyggeligt não é exclusividade dos dinamarqueses, mas eles são especialistas!
Vejamos o porquê!
Hygge, o que é para os dinamarqueses e residentes!
Segundo Alex, uma dinamarquesa filha de mãe francesa e pai dinamarquês, que se mudou para os EUA e criou em 2004 o site Hygge House, como uma forma se conectar de volta às suas origens, hygge é reconhecer um sentimento ou um momento, seja sozinho ou com amigos, em casa ou fora, ordinário ou extraordinário, como aconchegante, charmoso ou especial.
Como observa Alex, o hygge só requer consciência, uma certa lentidão e a capacidade de não apenas estar presente, mas reconhecer e desfrutar do presente.
Alex também vê o hygge como “uma arte de criar intimidade” seja consigo mesmo, amigos e sua casa.
Ela explica que os dinamarqueses criaram hygge porque estavam tentando sobreviver ao tédio, ao frio e à escuridão; com tantos dias frios, escuros, o simples ato de acender uma vela e desfrutar de uma xícara de café poderia fazer uma enorme diferença para o espírito de alguém.
Assim, ao criar rituais simples sem esforço, como preparar um chá numa xícara de porcelana todas as noites, e parar na floricultura todas as semanas, os dinamarqueses veem tanto a vida doméstica quanto a pessoal como uma forma de arte.
Para Alex, os dinamarqueses incorporam hygge em sua vida diária, por isso torna-se uma extensão natural em vez de um evento forçado e estressante.
A inglesa Helen Russell, autora de O Segredo da Dinamarca, ao mudar para o país e descobrir o hygge, comentou que o resto do mundo está percebendo gradualmente o que os dinamarqueses já sabem há gerações: que passar um tempo relaxado com amigos e família, bebendo um café ou uma cerveja, pode ser bom para a alma.
Hygge, e o que não é!
Embora o hygge seja frequentemente associado a objetos, como velas e lareiras, e a ambientes, como casas bem decoradas e confortáveis, para a maioria dos dinamarqueses não equivale necessariamente ao consumo de bens materiais, mas usufruir do que se tem.
E hygge, ou ser hyggelig, não é um “estilo de vida”, não tem receita pronta de “como fazer” ou necessidade de adotar um modo específico de vida ou comprar qualquer coisa, como uma “sala de estar hygge” ou “alimentos de hygge“.
Ou seja, diz respeito a valores aprendidos, que nos fazem viver bem em qualquer circunstância, e a capacidade de estar presente, ciente de um bom momento e de se divertir!
Assim, como bem observa Alex, não se trata de ser chique, cheio de estilo, estar nas melhores circunstâncias ou ter as “coisas certas”. É literalmente sobre estar presente o suficiente para ver o quão grande é um momento, e dar a esse momento um nome – hygge.
Segundo Alex, nesses momentos ninguém deseja estar em outro lugar, ninguém deseja ter algo mais do que o que está lá, não há preocupação, há apenas alegria. E é isso que é o verdadeiro hygge – um momento simples que parece tão especial, aconchegante, relaxante, amoroso ou feliz que você só precisa vivenciá-lo.
Ser hyggeligt
Mais importante que ter um conceito preciso é o sentido e a ideia associada ao hygge, o sentimento despertado decorrente da forma de vida muito particular dos dinamarqueses.
Fica claro que o povo dinamarquês tem determinados valores – vida em família, confiança, respeito, amizade, leveza e alegria –, que ajudam a enfrentar os problemas no dia a dia, e vivem num contexto muito específico.
A Dinamarca, um dos países mais felizes do mundo, é um país rico no qual a população tem suas necessidades materiais asseguradas e uma rede de proteção social garantida por um governo em quem confiam e que funciona!
E isso faz toda a diferença…
Você pode parar, relaxado, sem preocupação com o futuro, com segurança, e sentir o contentamento e a gratidão por viver bem mais um dia e comemorar o milagre da vida!
Assim, para mim, hygge fala de um certo estado de espírito combinado com certos valores num contexto muito particular que, no fundo, gera um sentimento único de gratidão e contentamento com o momento presente!
Site:
Livros:
“O segredo da Dinamarca” de Helen Russel.
O Livro do Hygge. O Segredo Dinamarquês para Ser Feliz. Meik Wiking
