Esses dias me deparei com um artigo instigante da Harper’s Bazaar, escrito pelo jornalista e crítico de moda Faran Krentcil: “Mirrors Are Invading Our Wardrobes—and Maybe Our Minds”, ou, em tradução livre, “Os Espelhos Estão Invadindo Nossos Guarda-Roupas — e Talvez Nossas Mentes”.
A leitura despertou uma ideia curiosa: e se o novo “poder” da moda for justamente a autorreflexão?
De fato, nas passarelas do outono-inverno 2025/2026, diversos looks pareciam sussurrar ao público: “Ei. Esqueça de mim. Olhe para você.”
Os espelhos na passarela e uma reflexão!
Espelhos inteiros, fragmentados ou em detalhes reflexivos costurados por toda parte provocavam uma autorreflexão literal.
Era como se as roupas na passarela dissessem: “Você olha para mim e vê a si mesmo!
Olhar para o próprio reflexo pode provocar um caos interno — como no mundo ao avesso de Alice no País das Maravilhas. Só que, nos dias de hoje, não atravessamos espelhos encantados, mas deslizamos por filtros do TikTok, onde o reflexo também confunde, distorce e fascina.
No desfile da Carolina Herrera, as lantejoulas da temporada passada foram substituídas por enormes paetês espelhados, que tilintavam a cada movimento das modelos.
Erdem Moralioglu apresentou um conjunto de blusa e saia bordadas com milhares de microespelhos, refletindo a plateia com um jogo de sombras e movimentos.
Julien Dossena, na Rabanne, seguiu um caminho semelhante, aplicando espelhos em trench coats de PVC.
Mas foi no desfile da Fendi, com Silvia Venturini, que os laços de veludo preto e as saias-lápis bordadas com minúsculos espelhos triangulares tornaram o paralelo com o universo de Lewis Carroll ainda mais evidente.
Já na Versace, o conceito de espelho se funde com o brilho de uma bola de discoteca — como era de se esperar. Esta foi a última coleção de Donatella Versace, uma vez que a marca foi vendida para a Prada, de fato, como aventamos no nosso post “Quem controlará a Versace? Os bastidores do luxo!”
Por outro lado, na estreia de Sarah Burton na Givenchy, um vestido tilintava com espelhos recuperados de estojos de maquiagem, refletindo as luzes da passarela de volta para a plateia como pequenos sinais luminosos.
E não foram apenas as roupas que trouxeram referências aos espelhos.
Nos desfiles de Tom Ford, Schiaparelli, Gucci e Jil Sander, o chão, o teto e os cenários estavam revestidos de superfícies espelhadas.
Mas será que esses espelhos da moda podem realmente nos levar à reflexão?
Como menciona Faran Krentcil, olhar para o próprio reflexo pode desencadear um certo caos interior — como no mundo invertido de Alice no País das Maravilhas.
Esse fenômeno revela como a moda, ao nos confrontar com nossa própria imagem, pode provocar desconforto — mas também inspirar reflexões sobre quem somos e como nos percebemos.
E se, ao encararmos esses pequenos reflexos, decidíssemos — gostando ou não do que vemos — sair por aí e fazer o melhor com o dia que temos? Talvez, sim, haja uma chance.
No fim das contas, a verdadeira autorreflexão não está nos espelhos nem nas roupas, mas na forma como escolhemos encarar as imagens que projetamos — e a realidade que elas nos revelam.