Conheça a tendência do balletcore, sua história e saiba como incorporá-la à sua coleção.
Em uma das minhas consultorias para negócios, estamos desenvolvendo o planejamento de coleção para uma nova marca que será lançada em breve no mercado brasileiro.
Grande parte do que discutimos em nossos encontros vem do nosso Observatório de Tendências, que atua como um catalisador criativo para todo o processo. Entre os destaques, percebemos que os tons suaves — como o blush, o rosa peônia, o rosa balé e outros tons pastel — se mostram especialmente relevantes nesta temporada. E isso não é por acaso.
De acordo com a WGSN, os tons pastel foram um dos fios condutores nas passarelas da primavera/verão de 2025, aparecendo em propostas que vão de vestidos transparentes e esculturais até alfaiataria e acessórios minimalistas.
Essa escolha cromática conversa diretamente com o universo do balletcore, uma estética que traduz elementos do balé clássico — como a leveza, a delicadeza e a sutileza — para a moda contemporânea.
O balletcore mistura peças como saias de tule, bodies ajustados, sapatilhas e sobreposições leves, sempre acompanhadas de uma paleta de tons etéreos, criando um visual que une romantismo, funcionalidade e elegância.
Essa estética surgiu no início dos anos 2020 e ganhou força a partir de 2022, especialmente impulsionada pelas redes sociais, como o TikTok, que ajudaram a disseminar esse imaginário para além dos palcos.
Do palco à passarela: a história do balé na moda
Em 1832, Marie Taglioni estreou no balé La Sylphide, coreografado por seu pai, Filippo Taglioni. Nessa apresentação, ela usou um tutu romântico — uma saia de tule esvoaçante que se tornou emblemática do balé clássico — e dançou en pointe, técnica que ajudou a consolidar a estética etérea da dança.
O tutu romântico, introduzido por Taglioni, consistia em uma saia de tule leve, que permitia maior liberdade de movimento e contribuía para a imagem de leveza e graciosidade das bailarinas.
No século XX, estilistas como Coco Chanel e Christian Dior incorporaram elementos do balé em suas criações.
Segundo a BBC, em seu artigo “How Ballet Has Inspired Fashion” (Como o balé inspirou a moda), Coco Chanel teve uma ligação direta com o universo do balé ao colaborar com os Ballets Russes, enquanto Christian Dior foi o estilista que mais se associou à estética clássica inspirada na dança, dominante na alta-costura francesa nas décadas de 1940 e 1950.
Ainda que o balé clássico não tenha sido uma referência explícita para o New Look, criação icônica de Dior, sua principal inspiração vinha da Belle Époque — especialmente das roupas de sua mãe, da elegância dos anos 1900 e da estética dos jardins franceses — marcada por linhas curvas, cinturas definidas e volumes exuberantes, elementos que também dialogam com o imaginário do balé.
A leveza dos tecidos (tule, organza) e a construção artesanal das saias remetem, de certa forma, ao universo do balé e da alta-costura, que, por sua vez, compartilham técnicas como a construção de volumes e o uso de várias camadas de tecidos leves.
No período posterior, especialmente nas décadas de 1950 e 1960 a moda absorveu fortemente as referências do balé — o que inclui o próprio Dior em alguns looks mais etéreos.
Mais adiante, estilistas como Yves Saint Laurent, Giambattista Valli e até mesmo a Maison Dior — sob a direção de Maria Grazia Chiuri — recorreram ao universo do balé como uma fonte de inspiração, seja de forma direta ou sutil.
No início dos anos 2020, o balletcore ressurgiu com força, impulsionado por marcas como Miu Miu e Simone Rocha, que trouxeram de volta peças como sapatilhas de balé, saias de tule e cardigãs. Celebridades como Bella Hadid adotaram a estética, contribuindo para sua popularização.
Além disso, a tendência se alinha com movimentos culturais que valorizam a nostalgia, a feminilidade e a busca por conforto — especialmente em tempos de incerteza. O balletcore oferece uma forma de expressão suave e romântica, funcionando como um contraponto a estéticas mais disruptivas, como as tendências minimalistas, andróginas ou de estética utilitária.
Como aplicar o balletcore na sua coleção
Pense em silhuetas mais nítidas, um estilo mais demure (modesto, por assim dizer!) e uma paleta que vai desde tons sutis até nuances de rosa chiclete.
O resultado é uma tendência que ainda é doce, mas com um ponto de vista moderno — seja com um vestido de cetim, minissaia plissada e top esvoaçante, ou com um cardigã, calças sob medida e uma bolsa de ombro minimalista.
Os vestidos na tendência balletcore!
Os vestidos são um ponto de entrada interessante para essa estética. Procure por volumes suaves, movimentos fluidos ou camadas transparentes para manter a aparência leve, com uma clara referência à dança.
Além dos vestidos: calças, saias e shorts em versão balletcore!
Saias, calças e shorts podem até parecer ultra femininos dentro dessa estética, mas ganham frescor quando aparecem em versões maxi, de proporções esculturais ou com aquele charme da alfaiataria desconstruída — pense no jeans ombré barrel, com lavagem degradê e modelagem arredondada, ou nas calças de seda fluida, que trazem leveza imediata.
O styling é fundamental: combine com camisas de alfaiataria, regatas minimalistas ou tops esvoaçantes para criar equilíbrio e trazer um toque urbano ao romantismo da tendência.
Acessórios: pequenos detalhes, grandes efeitos!
Seja em couro estruturado, ráfia tecida ou bordados delicados, as bolsas em rosa balé adicionam um ponto de luz e feminilidade ao look. Aposta certeira: sobrepor uma bolsa compacta a um visual monocromático para reforçar o minimalismo contemporâneo — aquele equilíbrio perfeito entre suavidade e presença.
Nos pés, o balletcore se revela!
É nos calçados que a referência ao balé surge de forma mais literal — especialmente nos Mary Janes em cetim, que evocam diretamente as sapatilhas de palco. Mas, para quem busca uma leitura mais contemporânea, os tênis em tons de blush entram como o contraponto perfeito. Uma escolha que dialoga tanto com um estilo delicado quanto com propostas esportivas ou ultraminimalistas.
A nova fase do balé na moda
Nos últimos tempos, temos visto a volta do visual romântico e delicado do balletcore, principalmente nas passarelas e no street style. Em 2022, quando a estética começou a ganhar espaço, tivemos uma releitura dos ícones clássicos, como polainas, sapatilhas e muitos itens femininos.
Desta vez, a tendência chega reinventada e continua evoluindo, incorporando elementos de outras estéticas, como o cottagecore, que, na moda, se traduz em peças de inspiração campestre, feminilidade suave e nostalgia — um contraste interessante com o caráter, muitas vezes urbano, da nova vertente do balletcore. É uma fuga simbólica do estresse contemporâneo, construída e disseminada nas redes sociais.
As marcas estão explorando novas interpretações, combinando o romantismo do balé com toques urbanos. Essa nova fase mantém a essência romântica, mas incorpora elementos mais modernos e contemporâneos, como fitas de cetim, meias rendadas e sapatilhas revisitadas.
Marcas como Chloé, Simone Rocha, Ferragamo e Victoria Beckham trouxeram essas cores leves para suas criações.
Além disso, há um movimento crescente a favor de mais inclusão e diversidade dentro dessa estética, desafiando padrões tradicionais de corpo e gênero, historicamente associados ao balé.
Isso mostra que o balletcore continua sendo uma tendência relevante, adaptando-se e evoluindo com o tempo, mas mantendo uma sensação de nostalgia tão valorizada nos tempos superconectados em que vivemos.
Olhar da consultoria de moda
O que percebemos no nosso Observatório de Tendências é que o balletcore entrou, de fato, em uma nova fase. Mais do que reproduzir códigos óbvios do universo do balé, a tendência se expande, incorpora contrastes e se torna uma ferramenta para construir uma imagem que combina suavidade, elegância e contemporaneidade.
Para quem trabalha com desenvolvimento de produto, styling ou criação de conteúdo, o ponto de atenção está justamente nesse equilíbrio: peças com referência romântica, sim, mas aplicadas a propostas urbanas, minimalistas ou até esportivas.
Isso não só atualiza a estética, como também responde ao desejo do consumidor atual, que busca narrativas visuais mais diversas, fluidas e inclusivas.
O balletcore, portanto, se consolida como uma linguagem estética relevante, adaptável e, acima de tudo, comercialmente viável.