Fique por dentro da emocionante história de Salvatore Ferragamo e o seu legado para moda.
Com certeza você já ouviu falar de Salvatore Ferragamo, não é?
Ele foi um gênio, perfeccionista, de mãos hábeis e mente criativa, que mudou a história da moda, razão pela qual foi considerado um dos 15 maiores estilistas de todos os tempos no nosso ranking.
Assim, convido vocês a se juntar a nós em um mergulho na história e obra do “sapateiro dos sonhos”.
Salvatore Ferragamo, como tudo começou!
Salvatore Ferragamo nasceu na pequena vila rural de Bonito, região da Campania, próximo a Nápoles, em 5 de julho de 1898.
Ele era o décimo primeiro dos 14 filhos de Antonio e Mariantonia Ferragamo, que trabalhavam incansavelmente para sustentar a família.
O talento e interesse dele por sapatos se deu desde muito cedo.
Contam que, aos nove anos, o pequeno Salvatore viu a tristeza de sua irmã que não tinha sapatos adequados para usar na sua Primeira Comunhão.
Ele passou a noite em claro e confeccionou-os, surpreendendo a todos na manhã seguinte com um belo par de sapatos brancos, que foi muito elogiado!
Nessa época, Salvatore, em suas horas de folga, gostava de frequentar a oficina de Luigi Festa, um sapateiro, próxima à casa dele, e ficar observando atentamente o trabalho de Luigi, apesar da objeção de seus pais.
Na verdade, o ofício de sapateiro não era exatamente um trabalho bem-visto à época.
Nesse meio tempo, o pequeno Salvatore experimentou outros ofícios a pedido dos pais e, ainda, ajudava-os a cuidar das plantações de oliveiras e videiras.
Mas é na oficina de Luigi que Ferragamo encontra sua verdadeira paixão: os sapatos!
Contam que, com apenas dez anos, Salvatore já era um sapateiro completo.
Aos onze anos de idade, ele foi para Nápoles, uma cidade que na época era considerada uma das capitais produtoras de artigos de luxo, onde aperfeiçoou sua técnica.
Um ano depois, ele regressou à sua cidade natal e montou uma oficina de conserto de sapatos e confecção de botas com a ajuda da família.
Ferragamo contratou dois auxiliares, um garoto da sua idade e um jovem de dezoito anos, e, surpreendam-se, aos quatorze anos, a sua equipe já contava com seis assistentes, e ele tinha clientes até das cidades vizinhas.
Salvatore Ferragamo, o sapateiro das estrelas!
Em 1914, aos 16 anos, Salvatore foi para os Estados Unidos, onde moravam seus irmãos mais velhos.
Em Boston, ele conseguiu serviço em uma fábrica de calçados, onde trabalhava um de seus irmãos.
Ele notou que os sapatos lá fabricados, embora mais baratos e fáceis de produzir, não tinham a mesma qualidade daqueles feitos à mão por artesãos na Itália.
E vislumbrou uma grande oportunidade!
Salvatore Ferragamo mudou-se para Santa Bárbara na California, o centro cinematográfico no país à época, e abriu uma loja de reparos e confecção de sapatos e começou a trabalhar para a American Film Co.
Contam que as botas de cowboy usadas pelos atores nos filmes, que faziam sucesso na época, eram desconfortáveis e feitas longe dali, e assim, para alívio dos atores e atrizes, o jovem Ferragamo começou a produzi-las!
Também nessa época, ele começou a estudar anatomia humana na Divisão de Extensão da University of Southern California, dedicando-se ao estudo do arco do pé, como este suporta o peso do corpo, e desenvolvendo seus projetos, com o objetivo de criar não só os sapatos mais desejáveis, mas também os mais confortáveis.
Quando a indústria cinematográfica se transferiu para Hollywood, Ferragamo decidiu deixar Santa Bárbara para trás e seguiu junto com seus clientes célebres como Mary Pickford e Paola Negri.
Assim, em 1923, ele abriu “Hollywood Boot Shop” no Boulevard Las Palmas, em Hollywood, que passou a ser frequentado por grandes atrizes e atores de cinema.
Em 1927, ele retornou à Itália, em busca do “know how” italiano e artesãos especializados em couro, que não encontrava tão facilmente nos Estados Unidos, pois a produção de seus sapatos, inteiramente à mão, exigia habilidade, precisão conhecimento do ofício.
Assim, Ferrragamo estabeleceu-se em Florença, cidade onde encontrou tudo o que necessitava para criar o seu negócio.
Lá ele abriu seu primeiro laboratório, na Via Mannelli 57, e produziu sapatos femininos inicialmente reservados apenas para o mercado americano.
Vale lembrar que, na época, Florença era capital da arte e da cultura italiana.
É claro que seu vínculo com os Estados Unidos não se rompeu, pois exportava suas criações e inúmeros clientes continuaram fiéis.
Entretanto, com a inesperada crise, em 1929, os negócios de Salvatore sofreram um baque, e ele teve de declarar falência.
Não obstante toda a dificuldade, ele não desiste e, com ajuda de seus empregados, consegue reerguer a empresa.
Em 1936, Salvatore aluga algumas salas no Palazzo Spini Feroni, da época medieval, construído às margens do rio Arno; contam que ele tinha apenas um mês de aluguel no banco.
Dois anos depois, ele comprou por 3.400.000 liras o palácio, que ainda hoje é de propriedade da empresa e abriga o Museu Ferragamo.
Ferragamo fez os sapatos memoráveis para as estrelas de grandes produções cinematográficas como Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille (primeira versão, 1923), o Ladrão de Bagdá, de Raul Walsh (1924), O Mágico de Oz, estrelado por Judy Garland (1939) e), dentre outros.
Contam que ele fabricou 12.000 sandálias para Os Dez Mandamentos de 1923 e criou as botas de caubói para faroestes dirigidos por Cecil B. DeMille.
Muitos modelos criados por Ferragamo se consagraram, como os com plataforma feitos para Carmen Miranda e as sapatilhas, inspiradas nas de balé, criadas para Audrey Hepburn, estrela do filme Sabrina (1954).
Além dessas atrizes, também foram clientes de Ferragamo, Ava Gardner, Marlene Dietrich, Katharine Hepburn, Rita Hayworth, Bette Davis e Ingrid Bergman e a Duquesa de Windsor Wallis Simpson.
Anos mais tarde, a Ferragamo criaria todos os modelos que Madona usou no filme Evita (1996); nada mais justo, uma vez que, de fato, Eva Perón também foi cliente dele.
Assim, Salvatore Ferragamo ficou conhecido como “sapateiro das estrelas”, “sapateiro dos sonhos”, dada a ligação dele, ao longo de toda a carreira, com o mundo do cinema e as estrelas de Hollywood.
Salvatore Ferragamo, a empresa e a família!
Salvatore Ferragamo, como contam, sempre deu enorme valor à família.
Em julho de 1940, de volta à sua cidade natal para visitar o pai, ele, que já era uma celebridade, conheceu Wanda Miletti.
Ela, ao cumprimentá-lo, elogiou-o pela sua contribuição para a elegância feminina.
Contam que Salvatore ficou impressionado com suas palavras e decidiu, naquele momento, que ela seria sua esposa, apesar da diferença de idade; Wanda ainda não tinha completado 19 anos e Salvatore já tinha 42.
Em novembro daquele mesmo ano eles se casaram; tiveram seis filhos – Fiamma, Giovanna, Fulvia, Ferruccio, Massimo e Leonardo -, que, ao longo dos anos, se envolveram nos negócios da empresa.
Salvatore faleceu em 1960, deixando a empresa que contava com uma série de sapatos e bolsas célebres e muitos clientes do jet set internacional.
Mas não antes de publicar a sua autobiografia no final da década de 50, que ele dedicou à esposa Wanda e “a todos aqueles que devem caminhar”.
Com a morte de Ferragamo, sua filha Fiamma, que começou a trabalhar na empresa aos 16 nos, seguiu os passos do pai na criação das peças e assinou, dentre outros, o conhecido sapato Vara, um dos mais famosos da marca, com bico arredondado e o laço na frente, e a bolsa W, criada para a sua mãe.
Salvatore Ferragamo, um artista na moda!
As criações de Salvatore Ferragamo primavam pela beleza, mas sem deixar de lado o conforto, e isso mudou tudo na história da moda.
Ele conhecia as pessoas que iam usá-los, mas não só! Estudava o caminhar, onde as pessoas apoiavam o pé, o peso do corpo, a curvatura do pé, criando modelos anatômicos.
Ele mudou a concepção dos calçados, criou tendências, chegando a patentear suas criações!
O material que utilizava era o mais diversificado possível, do couro ao papel celofane, do luxuoso ao exótico, mas não dispensando a qualidade.
Nem a crise que assolou o mundo durante a Segunda Guerra e o Pós-Guerra, com a escassez de material, impediu que Ferragamo continuasse o seu trabalho, o que acabou dando vida à sua criatividade.
Ele usou em seus calçados das peles mais finas ao couro comum, os mais variados tipos, como os de cabra, crocodilo, jacaré, lagarto, cobra, jaguatirica e, ainda, escamas de peixe.
Inovou, usando papel celofane e fios de nylon, assim como fibras vegetais como o cânhamo, a cortiça e, até mesmo, a palha.
Ele patenteou o salto de cortiça que usamos até hoje.
É claro que não faltaram a seda, o ouro e as pedras preciosas, usados na produção dos sapatos e sandálias para a noite, assim como tecidos bordados ou pintados à mão, atendendo à demanda dos clientes.
Ferragamo também gostava de usar cores fortes em seus sapatos e não apenas o branco, o preto e o marrom predominantes à época, e inclusive, ele mesmo tingia os materiais.
Em 1947, Ferragamo recebeu o prêmio Neiman Marcus, o famoso Oscar da moda na época, pela criação das “Sandálias Invisíveis” em fios de nylon, uma representação magnífica da infinita criatividade, capacidade e dedicação dele na busca do sapato perfeito!
Na década de 1950, Ferragamo criou o salto agulha no sapato desenhado para Marilyn Monroe e confeccionado em pele de jacaré.
Salvatore Ferragamo e o seu legado na moda!
Com a morte precoce de Salvatore Ferragamo em 1960, a família, com Wanda Ferragamo à frente, assumiu o controle da empresa e continuou o trabalho dele, mantendo o rigor, a qualidade e o gosto pela perfeição que ele tanto prezava.
Nos anos que se seguiram, sob o comando da família, a Ferragamo criou a primeira coleção de roupas femininas, uma coleção completa de produtos em couro e acessórios, os sapatos masculinos e o mencionado sapato feminino Vara.
No início dos anos 2000, foi lançada a sapatilha Varina, uma releitura do Vara, que continua um sucesso de vendas até os dias atuais.
Desde abril de 2021, Leonardo Ferragamo, o quinto filho de Salvatore e Wanda Ferragamo, é Presidente do grupo Ferragamo e Diretor da Ferragamo Finanziaria.
Marco Gobbetti, ex-chefe do grupo de moda britânico Burberry, é o CEO do grupo Ferragamo desde janeiro de 2022.
A família Ferragamo continua no controle do grupo, por meio da holding Ferragamo Finanziaria, presidida por Leonardo Ferragamo, e eles detêm cerca de 75% do grupo, considerando a participação de familiares.
Leonardo Ferragamo credita o sucesso do grupo à sua mãe:
“Minha mãe foi a força motriz da época após a morte de meu pai em 1960, tendo deixado com seis filhos de 18 anos a dois anos e meio, e uma empresa que se baseava apenas no meu pai, na personalidade do meu pai, na sua criatividade, na sua capacidade de fazer negócios.”
O Grupo Ferragamo é um dos líderes na indústria de luxo e atua na criação, produção e venda de sapatos, artigos de couro, vestuário, produtos de seda e outros acessórios para homens e mulheres.
O Grupo também vende óculos, relógios e perfumes, produzidos sob licença.
A Ferragamo sempre se destacou pela combinação de design, cheio de estilo e criatividade, com a qualidade da produção artesanal típica do made in Italy.
Hoje, a Salvatore Ferragamo é um império da moda sem precedentes, graças à determinação de um menino, que se tornou um dos maiores designers do mundo da moda, um homem à frente do seu tempo, que, ao nosso ver, pode ser considerado um dos maiores estilistas do mundo da moda!
Salvatore Ferragamo, um inegável talento, uma história admirável.