A fusão entre o universo da moda e o mundo dos esportes, antes vista como improvável, tornou-se uma das maiores influências do momento. As passarelas, outrora dominadas por modelos magríssimas, agora recebem atletas de diversas modalidades, desde os campos de futebol até as pistas de atletismo.
Essa relação, no entanto, não é totalmente nova.
Desde a Antiguidade, houve esporte e houve moda. Pinturas e esculturas retratam atletas sem roupas nas Olimpíadas da Grécia Antiga. Há registros de gregos e romanos com trajes mínimos em competições esportivas.
Naquela época, a ideia de “moda” como expressão de identidade social era apenas rudimentar. Certas peças ou estilos usados podiam indicar a posição social, ou refletir o orgulho cívico, mas não seguiam a dinâmica de inovação e mudança que define a moda.
Foi apenas mais tarde que as roupas esportivas passaram a influenciar o vestuário cotidiano.
Essa evolução ocorreu com a industrialização e a popularização dos esportes, quando a conexão entre moda e esporte começou a se intensificar.
No final do século XIX, começaram a ser criadas roupas específicas para esportes como tênis, golfe, ciclismo, futebol e corrida. As mulheres, por exemplo, começaram a usar saias mais curtas e menos volumosas para maior liberdade de movimento.
Nos anos 1920, Coco Chanel revolucionou a moda ao introduzir tecidos leves e cortes mais soltos, influenciando diretamente a moda esportiva e dando os primeiros passos para o conceito de “athleisure”. Os Jogos Olímpicos de 1924 consolidaram a tendência de roupas mais funcionais.
No nível do vestuário, essas duas esferas sempre mantiveram uma conversa sutil. Desde Coco Chanel, que incorporou influências esportivas ao vestuário feminino, até o athleisure contemporâneo, que ganhou força na era Prada Sport dos anos 2000.
Não é por acaso que se chama isso “sportswear”.
Se antes passarelas e estádios seguiam trajetórias paralelas, cruzando-se apenas em raras e marcantes exceções – como Michael Jordan e David Beckham, que evidenciaram o potencial dessa interseção –, hoje essa distância encurtou-se consideravelmente.
Eventos esportivos de grande porte – como os Jogos Olímpicos, a Champions League da UEFA, as Copas do Mundo da FIFA, o Super Bowl, os torneios de tênis de Wimbledon e US Open e as corridas de Fórmula 1 – tornaram-se verdadeiras vitrines para a moda.
Atletas como Cristiano Ronaldo, Neymar Jr., Tom Brady, Serena Williams, Naomi Osaka, Roger Federer, Letícia Bufoni e Lewis Hamilton não brilham apenas nas competições, mas também se consolidam como verdadeiros ícones de estilo. Fashionistas dentro e fora das quadras, influenciam milhões de fãs ao redor do mundo com suas escolhas de moda, seja em eventos relacionados às competições ou no dia a dia.
Essa nova realidade não se limita às grandes competições esportivas.
Marcas como Nike, Adidas e Puma, tradicionalmente associadas ao esporte, investem cada vez mais em design e colaborações com estilistas renomados, criando coleções que transcendem o mundo esportivo e se tornam desejadas por fashionistas.
Exemplos notáveis incluem a parceria da Nike com a Off-White, então liderada por Virgil Abloh, que trouxe um olhar inovador aos tênis clássicos; a colaboração da Adidas com Stella McCartney, que incorporou sustentabilidade à moda esportiva; e os projetos da Puma com a cantora Rihanna para a linha Fenty, os quais redefiniram o athleisure com uma abordagem ousada.
Nas últimas temporadas, o movimento da moda esportiva encontrou ressonância na macrotendência da nostalgia, que celebra o passado por meio de peças de estética vintage.
É curioso observar esse paradoxo: embora gostemos de afirmar que a moda está sempre projetada para o futuro — e em certos momentos realmente acreditamos nisso —, as últimas temporadas apontam para um movimento de introspecção no setor, marcado por um retorno ao que é familiar e reconfortante.
A nostalgia permeia quadras, vitrines e passarelas, reforçando o vínculo emocional entre o passado e o presente da moda. Para muitos, essa tendência surge como uma resposta às incertezas do mundo atual, uma forma de buscar bem-estar e estabilidade em tempos de mudança.
Ao mesmo tempo, é inegável que as redes sociais desempenham um papel crucial na amplificação da relação entre moda e esporte, espalhando tendências com uma rapidez impressionante.
Plataformas como o Instagram e o TikTok não apenas dão visibilidade aos atletas, mas também os transformam em verdadeiros influenciadores de moda.
Mas por que essa união entre moda e esporte é tão forte?
Os consumidores, especialmente a Geração Z e as novas gerações, buscam marcas e personalidades que reflitam seus valores e estilo de vida.
Nesse cenário, a moda esportiva se destaca como uma alternativa funcional e autêntica para acompanhar o dinamismo e a diversidade da vida contemporânea.
A pandemia acelerou essa tendência, ampliando a demanda por roupas versáteis que transitam facilmente entre o treino, o lazer e o ambiente de trabalho.
Mais do que uma influência passageira, essa sinergia entre moda e esporte simboliza uma transformação cultural profunda, na qual os limites antes bem definidos pela moda começam a se desfazer.
No futuro, é provável que essa relação se estreite ainda mais, com novas colaborações entre marcas e atletas e a criação de experiências cada vez mais imersivas para os consumidores.
E, quem sabe, você me encontre assistindo a uma partida ou outra — afinal, sempre há uma boa dose de inspiração por lá!